Artigos sobre Paulina Chiziane (Jornal de Noticias) 6


Abre feira do livro no “Cultural do BM”
ABRE hoje no Centro Cultural do Banco de Moçambique, na Matola, uma feira de livro subordinado ao lema “Vamos todos desenvolver o gosto pela leitura”.
É um evento em que participam as editoras “Ndjira”, “Mabuko”, “Publicações Europa-América”, “Escolar Editora” e “Plural Editora” e, parece que esta inauguração vem mesmo a calhar já que as aulas arrancam hoje em topo o país, adivinhando-se desde já que o maior número de visitantes venha a ser de estudantes e professores à procura de livros didácticos para os seus cursos.
Estarão patentes nesta mostra de livro milhares de títulos de vários autores, consagrados e novos talentos. Pretende-se que seja uma feira completa, em que sejam atendidos todos os gostos de leitura, desde os livros técnicos, enciclopédias, gramáticas, cultura, ficção, incluindo infanto-juvenil.
Esta feira pretende, por outro lado, promover a literatura moçambicana, trazendo nomes como Mia Couto, Paulina Chiziane, José Craveirinha, Elísio Macamo, entre outros.
Ainda enquadrado neste evento, haverá uma mesa-redonda no dia 1 de Fevereiro, onde será debatido  o “Papel do Livro na Formação da Cidadania”.
A feira que hoje inaugura, pode ser visitada até sábado, dia 3 de Fevereiro.
Chissano é um homem de cultura
- Sempre que se fala de literatura no feminino em Moçambique, os nomes que avultam são da Lília Momplé e Paulina Chiziane. Até que ponto a presença destas mulheres pode contribuir para a mudança das mentes dos políticos? - Nós alertamos para possíveis problemas que este país possa ter. Alertamos duma maneira literária sobre problemas que podem ser muito graves se as pessoas não tomarem atenção. Eu até tenho vergonha de te estar a dizer isto. Mas realmente é essa a tese dessa obra.
- Mas será que os políticos e a sociedade têm a dimensão daquilo que vocês as duas estão a fazer? - Há políticos que realmente têm a dimensão daquilo que fazemos - não me refiro a mim nem à minha obra - entre eles o ex-presidente Joaquim Chissano, eu gostaria de fazer menção, porque Chissano é realmente um homem de cultura, um homem que lê, não são todos, mas eu penso que há uma boa parte dos nossos políticos que não pensa que a literatura pode ser alguma coisa que lhes possa fazer bem. Eu não ando - não quero estar a ser injusta – a fazer pesquisas, mas por aquilo que eu vejo, eu penso que a literatura é muito importante não só para os políticos, mas os políticos são o modelo, também os intelectuais entre aspas, porque intelectual não é aquele que engole muitos livros e muitas coisas, é muito mais do que isso e essa capacidade de elaborar sobre o que se lê só a literatura pode dar. Há uma crítica portuguesa que chama a literatura a disciplina de um milhão de dólares. Eu achei interessante isso porque na verdade a literatura é aquela disciplina que é transversal a todas as outras, sem a qual as outras pouco podem render. Por exemplo na Finlândia há cinquenta anos as pessoas andavam quase descalças, a comida era aveia com alguma coisinha. Mandavam sacos de roupa usada para as escolas há cinquenta e tal anos. Hoje a Finlândia já inventou a Nokia. É um país onde se vive muito bem, eu estive lá. Porquê? Porque apostou ferreamente na cultura e na educação. Aquelas bibliotecas onde eu estive são autênticos palácios da leitura onde isso é tomado com muita seriedade. Desde crianças pequenininhas até aos adultos, o ambiente literário da cidade é realmente notável contrariamente ao que a gente vê aqui ou em Portugal, em que as pessoas estão sempre agarradas ao telemóvel. Eu pensava que lá ia encontrar isso. O telemóvel para eles é uma coisa secundária. Há outra coisa que realmente a literatura lhes deu: uma capacidade de renovação, de descoberta e de sair da rotina.
OBITUÁRIO - FERNANDO COUTO (1924-2013): O jornalista multifacetado que deixa a cultura menos rica

A SALA de actos solenes João Albazine do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ) foi pequena para acolher, segunda-feira, centenas de moçambicanos e estrangeiros que quiseram prestar a última homenagem ao antigo jornalista, poeta e editor Fernando Couto, que faleceu quinta-feira aos 88 anos.
A cerimónia fez congregar naquele recinto gente de diversos quadrantes da vida da sociedade moçambicana, entre jornalistas, escritores, políticos bem como por amantes das letras, domínio em que Fernando Leite Couto era mais conhecido.
Na homenagem, iniciativa do SNJ e em coordenação com a família do malogrado, Fernando Couto foi lembrado como um homem íntegro, trabalhador, educador e amigo, cuja partida deixa um vazio em todas as áreas nas quais trabalhou. No campo das letras, o secretário-geral da Associação de Escritores de Moçambicanos (AEMO), Jorge Oliveira, declarou, em nome da instituição, que a morte de Fernando Couto constitui uma grande perda para literatura moçambicana, uma vez que o malogrado poeta estava fortemente ligado à produção literária do país. “Estamos muito tristes pelo desaparecimento físico do poeta, escritor e jornalista, que cria para nós um grande vazio”.
Impulsionador da literatura nacional
Para a escritora Paulina Chizine, Fernado Couto foi um grande impulsionador do movimento literário nacional. Segundo ela, através das suas acções Couto exerceu influência para o desenvolvimento da literatura, visto que era editor de uma das maiores editoras de Moçambique, a Ndjira, de que foi director até á morte.
Nas relações interpessoais, a escritora descreve Fernando Couto como um indivíduo que era “muito consciente do seu dever patriótico e de fácil comunicação. Era um dos poucos editores que dialogava com os seus autores”.
Paulina Chiziane aproveitou a ocasião para lançar um apelo de preservação e continuidade do legado de Fernando Couto.
No campo da comunicação social, o jornalista Simião Ponguana, da TVM, afirma ter conhecido Fernado Couto e sua esposa Maria de Jesus em 1987, quando este era seu professor de dactilografia na Escola de Jornalismo, em Maputo. Ponguana caracteriza o malogrado como um homem que era “dono de si e da sua palavra” e sempre firme nas decisões que tomava. O jornalista afirma que com a morte de Fernando Couto, perdeu-se uma grande biblioteca.
Fernado Couto foi, para o director da Escola de Jornalismo, Américo Xavier, acima de tudo “um educador, um homem íntegro, foi um jornalista formador de outros jornalistas”. Para Américo Xavier, Couto não só transmitia as técnicas de produção jornalística mas também transmitia valores humanos e éticos. “Era uma pessoa que transmitia os seus conhecimentos de forma simples e calma. Com a sua morte perdemos um amigo, educador, jornalista, escritor e amigo”.
O poeta, tradutor, escritor, jornalista e editor Fernando Leite Couto nasceu a 16 de Abril de 1924 em Rio Tinto, arredores da cidade do Porto, Portugal. Vivia em Moçambique desde o início da década de 1950. Como jornalista, colaborou com o jornal “Notícias da Beira”, “Diário de Notícias”, “Notícias” (na delegação da Beira e depois na capital, onde chegou a sub-chefe da Redacção), Agência de Informação de Moçambique (AIM) e Ministério da Informação. Foi igualmente professor de jornalismo e de outras disciplinas na Escola de Jornalismo.
Cremildo Gonçalves lança livro “Carlos Cardoso”
O Linguista moçambicano Cremildo Gonçalves Bahule lança hoje, em Maputo, o livro “Carlos Cardoso – Um Poeta de Consciência Profética”. O acto terá lugar às 17.30 horas, no Instituto Camões. O livro, que é um ensaio com 79 páginas, tem fotografia de Carlos Cardoso.
Na nota introdutória Cremildo Gonçalves recorda que Carlos Cardoso, conhecido por muitos como jornalista e investigador de assuntos socio-políticos, que melhor permitiam reportar nos seus editoriais, é, no entanto, pouco conhecido como poeta e artista plástico. Como jornalista ele soube criar alternativas e produzir repostas positivas, pois não clamou também construiu um jornalismo responsável e foi capaz de provar o que dizia pelo seu trabalho, investigando o que lhe era subjacente. “A sua frontalidade levou-o a romper com alguns círculos políticos e até foi parar à prisão, sempre ao serviço do povo moçambicano e da soberania nacional”, recorda-nos Cremildo, sublinhando que, como Homem, Carlos Cardoso, da heterodoxia, da irreverência, da imaginação, do humor, soube amadurecer com os seus ideais uma geração particular nas décadas 70 e 80. E, como jornalista, Cardoso desempenhou um papel importante na divulgação dos documentos descobertos na base da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), a “Casa Banana”.
“Com a morte de Carlos Cardoso (2000), de Noémia de Sousa (2002) e de José Craveirinha (2003), a literatura moçambicana apercebeu-se de que se consumava o fim de uma era: a era dos revolucionários, fundadores e impulsionadores da “Poesia de Combate”, diz o autor na sua nota introdutória, avançando que este ensaio literário constrói-se à volta da obra de Cardoso e do texto inédito “Cidade 1985”, como forma de sentir e perceber qual era a dinâmica da poesia de Carlos Cardoso perante as atrocidades políticas do seu tempo e do nosso tempo.
Cremildo Gonçalves nasceu em Maio de 1980. Mestrado em Linguística pela Universidade Eduardo Mondlane, Licenciado em Ciências Religiosas pela Pontifícia Universidade Urbana de Roma, e Bacharel em Ciências de Educação pela Universidade Católica de Moçambique, tem artigos publicados em revistas especializadas de música e literatura. Colaborou com quatro artigos na obra “Linchamentos em Moçambique”, sob direcção de Carlos Serra, e no livro “A Construção Social do Outro: Perspectivas Cruzadas sobre Estrangeiros em Moçambique”, organizada por Carlos Serra.
Cremildo desenvolve na Universidade Eduardo Mondlane um estudo sobre a relação que existe entre a música popular moçambicana e as línguas autóctones. Tem no prelo um ensaio com o título “Literatura Feminina, Literatura de Purificação: O Processo de Ascese da Mulher na Trilogia de Paulina Chiziane”.  
Doença mental e espiritualidade
O próximo livro, a escritora aborda a doença mental e espiritualidade, reunindo relatos recolhidos junto de doentes mentais, médicos e curandeiros."Não diria que é baseado numa pesquisa, também não diria que é um romance. É um livro que tem uma forma que eu não sei definir, porque foi baseado numa conversa com diferentes pessoas", explicou Paulina Chiziane à Lusa, no Rio de Janeiro.
Para a obra, a autora conversou com três doentes mentais e ouviu a opinião de médicos, curandeiros e espíritas.
"Cada um dá a sua opinião, mas não apresento uma resposta ao final. A ideia é fazer as pessoas reflectirem um pouco sobre esse mundo visível e invisível", realçou.
O novo livro, que será lançado a 21 de Dezembro, em Maputo, foi inspirado, segundo a autora, num vizinho: "Há um maluco que é meu vizinho que sempre que fala sozinho diz que está a falar com Deus. E se ele estiver mesmo?"
Emmy Xyx: Uma jornalista oferecida à literatura
A jornalista moçambicana Manuela Xavier trocou há vários anos as redacções por outras actividades, incluindo a arte e a escrita literária. É no entanto deste último domínio que ela volta a ser notícia: hoje, na mediateca do BCI, na baixa da capital do país, lança o seu segundo livro, “Contar ser Gregos”.
Nas lides culturais o nome Manuela Xavier é praticamente desconhecido, porque convencionou chamar-se Emmy Xyx, o nome com que assinou o seu livro de estreia, “Espelho”, no ano passado. É como Emmy Xyx que ela regressa às lides literárias, com um livro de poesia.
“Contar ser Gregos”, de que a autora é também editora, é um olhar inquieto que ela lança sobre a vida e sobre o mundo. Em conversa com o “Notícias”, jornal em que trabalhou a agora escritora, Emmy Xyx afirma olhar o mundo sob vários prismas. Esta forma de contemplar traduz-se numa multiplicidade de paralelismos e de contrastes que – segundo ela – definem o nosso tempo. “Eu olho para a vida e para o mundo hoje e ontem, vejo um mundo ao mesmo tempo colorido e preto e branco, com coerências e incoerências, de pernas para o ar”, dadas as anormalidades como as constantes instabilidades, inconstâncias no progresso das nações ou subalternização de uns por outros.
No contexto cultural em que está inserida, Emmy Xyx vê em Moçambique um país cada vez mais necessitado de revelar escritores. Diz ela haver potencial, que avalia por exemplo pela quantidade de trabalhos dispersos que têm aparecido. “Penso que temos muito caminho a percorrer, que se pode construir de uma conjugação conjunta de esforços e vontades. Precisamos no país de escritores e de leitores, por isso penso que tem de haver política literária mais abrangente por parte das editoras e uma crítica literária mais interventiva, opina.
Os tempos de jornalista desta escritora que diz não ter autores preferidos e que lhe constituem referência, mas que gosta de Paulina Chiziane, foram de euforia. Diz ela que o contexto em que trabalhou no “Notícias”, a transição e a proclamação da independência, Moçambique era um país de entusiasmo. Não estabelece paralelismos entre o actual panorama do jornalismo moçambicano e o do seu tempo, “porque os momentos são diferentes”. “Naquele tempo o nosso jornalismo era também de entusiasmo tal era o contexto em que vivíamos. Estávamos a começar a construir o nosso país e penso que o jornalismo desempenhou o seu papel. Hoje, apesar de ser tudo diferente, penso que os jornalistas actuais também dão o seu contributo, sobretudo num contexto de pluralismo”.
Manuela Xavier nasceu na vila de Ulóngwè, sede distrital de Angónia, em 1958. Estudou jornalismo em 1974/1975 e integrou o quadro editorial do “Notícias”. Mais recentemente colaborou nos semanários “Embondeiro” (entretanto extinto) e “Zambeze” com sua coluna "Kunyola-nyola".
Artista multifacetada, em 2008 apresentou a sua primeira exposição individual como "designer", retratando trabalhos feitos com base na casca do fruto do embondeiro. Seguiram-se outras exposições em Maputo e na sua província-natal, Tete. Estreou-se nos livros ao publicar no ano passado “Espelho”, com o patrocínio e edição do Fundo de Apoio Artístico e Cultural (FUNDAC), ao que se segue agora “Contar ser Gregos”, patrocinado pelo Banco Comercial e de Investimentos (BCI).
Paulina Chiziane vibra em tambores
UMA entrevista com a escritora Paulina Chiziane, que já tem pronto um novo livro, a que intitula “Por Quem Vibram os Tambores do Além”, a exposição que artistas baseados na capital do país têm patente na Fortaleza de Maputo, em homenagem a Malangatana, e uma incursão ao percurso da cantora brasileira Elis Regina, são os principais destaques da nossa edição do CADERNO DE CULTURA
Calane da Silva
Calane da Silva vence Prémio Craveirinha
O ESCRITOR Calane da Silva é o vencedor do Prémio Craveirinha, o maior galardão da literatura nacional e que, desde há duas edições, premeia a carreira dos autores e não simplesmente um livro.
O vencedor deste prémio, no valor pecuniário de 700 mil meticais, disponibilizados pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), sucede a Aldino Muianga, que ganhou em 2009 na anterior modalidade do prémio, que premiava livros e não toda a obra. Muianga lançara nesse ano “Contravenção”.
Outros vencedores foram Mia Couto e Paulina Chiziane, Eduardo White e Armando Artur, João Paulo Borges Coelho e Ungulani Ba Ka Khosa.
Raul Alves Calane da Silva, escritor e ensaísta, com passado de jornalista, nasceu a 20 de Outubro de 1945 em Maputo.
Licenciou-se em Letras e apresentou à Faculdade de Letras da Universidade do Porto a sua dissertação de mestrado em Linguística Portuguesa, em 2002, intitulada “Pedagogia do léxico: as escolhas lexicais bantus, os neologismos luso-rongas e a sua função estilística e estético-nacionalista nas obras ‘Xigubo’ e ‘Karingana wa Karingana’ de José Craveirinha”.
Durante 23 anos, foi jornalista do “Notícias”, na revista “Tempo” e Televisão Moçambicana. Foi um dos co-fundadores da Associação de Escritores Moçambicanos, onde foi secretário adjunto, em 1987. Docente no Centro de Línguas da Universidade Pedagógica, em Maputo, é investigador da literatura de Moçambique.
NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA
Em Niketche, Paulina Chiziane fala sobre Rami. Casada com Tony há vinte anos, Rami descobre que o marido tem várias mulheres em outras regiões de Moçambique.
O seu casamento, de «papel passado» e aliança no dedo, resume-se afinal a um irónico drama de que ela é apenas uma das personagens. Numa procura febril, Rami obriga-se a conhecer «as outras». O seu marido é um polígamo!
Na via dolorosa que então começa, séculos de tradição e de costumes, a crueldade da vida e as diferenças abissais de cultura entre o norte e o sul da terra que é sua, esmagam-na. E só a sabedoria infinita que o sofrimento provoca lhe vai apontando o rumo num labirinto de emoções, de revelações, de contradições e perigosas ambiguidades.
Niketche é uma dança de amor e erotismo, é um espelho em que nos vemos e revemos, mas no qual, seguramente, só alguns de nós admitirão reflectir-se.
Neste palco actuarão alguns artistas no âmbito da “Aldeia Cultural”
Cai o pano sobre conferência da cultura
CAI hoje o pano da II Conferência Nacional sobre a Cultura que vinha decorrendo desde quinta-feira última no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, com o objectivo de recolher subsídios sobre aquilo que será o futuro sector nos próximos anos. Além do acto central que vai marcar o fim dos debates sobre os diferentes painéis previamente seleccionados está agendado um grandioso espectáculo na Praça da Independência, local onde desde ontem se realiza a primeira “aldeia cultural” em saudação à conferência.
Antes de se rumar para a Praça da Independência, os cerca de 350 delegados, entre representantes das províncias e convidados, terão a oportunidade de discutir a síntese sobre as principais linhas de orientação da conferência, através da apresentação e debate das proposta do documento final.
Na mesma oportunidade o Ministério da Administração Estatal (MAE) vai apresentar um documento sobre a toponímia do país.
O dia de hoje está também reservado à apresentação da informação sobre a realização no país, do “I Campus Cultural de Cooperação Europa-África” e uma outra sobre a “Mostra de Cinema da CPLP”, que em princípio terá lugar próximo mês, na cidade de Maputo.
Entretanto, ontem, segundo dia da conferência, assistiu-se a alguns momentos de acesos debates nos diferentes temas apresentados, particularmente no que se refere, por exemplo, aos temas do painel “Cultura, Educação, Ética e Cidadania em Moçambique”, nomeadamente “Cultura e Cidadania em Moçambique” e “Dialogo entre as Culturas através da Educação” apresentados respectivamente por Filimone Meigos e José Castiano, sob moderação de Luís Bernardo Honwana.
Ainda assistiu-se a acesos debates na mesa-redonda subordinada ao tema “Papel dos Órgãos de Comunicação Social na Promoção e Divulgação da Cultura” que pela sua dimensão, teve três oradores, nomeadamente Daniel da Costa, Ricardo Dimande e Armindo Ngunga, sob moderação da escritora Paulina Chiziane.
O facto é que em todos estes temas ficou patente que o país tem um longo e sinuoso caminho por percorrer, quer no processo de construção da cidadania, quer na promoção de valores culturais através da educação, tal como na utilização dos meios de comunicação social para a promoção dos valores culturais que dizem respeito a Moçambique.
Relativamente aos primeiros dois aspectos, o sentimento comum dos participantes aos debates é sobre a necessidade de um diálogo cada mais permanente e incessante, mas com respeito às diferenças resultantes da diversidade do vasto mosaico cultural do país.
Graça Silva, encenadora
TEATRO - Chegar, ver e... querer vencer

A ACTRIZ Graça Silva, do Mutumbela Gogo, acaba de se estrear como encenadora, materializando assim um sonho – e uma luta – que durava há vários anos. A primeira peça teatral encenada por Graça Silva – “A Filha do Polígamo” – fala, curiosamente, da poligamia. A curiosidade vem do facto de abordar um tema já levado pela sua colega Lucrécia Paco também na estreia como encenadora.
“A Filha do Polígamo” é um original de Nasur Attoumane, escritor de Mayotte (domínio francês no oceano Índico), em que Graça Silva participou como actriz. “A peça fala da poligamia e de alguns aspectos que ocorrem na nossa sociedade. Por se tratar de um tema com inserção em Moçambique, uma vez que traz algo que acontece por cá, de norte a sul, tive a ideia de adapta-la e apresenta-la cá. Estou a estrear-me como encenadora e com esta peça quis trazer a debate um assunto não necessariamente novo, mas actual e que ocorre no nosso seio”, explica a actriz, a quem entrevistámos a propósito da sua nova faceta.
A peça, já apresentada em Maputo e que estará em cartaz no Teatro Avenida dentro de poucas semanas, não é necessariamente uma análise ou tese sobre poligamia. Mas uma descrição quase fiel de uma prática cujos contornos ultrapassam a simples soma de parceiras pelos homens. Em “A Filha do Polígamo” uma rapariga, filha de um polígamo assumido, tem que se casar com um primo, porque os pais assim o acordaram à nascença. Tenta fintar o destino casando-se com um estrangeiro que chega à nossa terra na capa de homem de negócios. A ausência sistemática do pai do leito familiar – porque tem que atender as esposas-satélite –, a relação da rapariga com um homem com quem se casou apenas para beneficiar da nacionalidade – como acontece com muitos estrangeiros que proliferam no nosso país é alguns pontos de interesse da peça de estreia de Graça Silva como encenadora.
“Tudo o que a peça traz não é nada de estranho. A peça foi escrita consoante a realidade de uma realidade concreta de um outro país, mas é algo completamente semelhante ao que acontece em Moçambique. Fiz minha adaptação trazendo um bocado mais de debate para o nosso lado, porque a poligamia e tudo mais que aqui trago são factos evidentes e que merecem uma reflexão de todos nós”.
Entretanto, para além de retratar, Graça Silva faz uma crítica à sociedade moçambicana no que à poligamia diz respeito. “Não gostaria de acender nenhuma fogueira, mas a poligamia mais do que manchar contribui para a degradação da sociedade. As mulheres, apesar de primeiras vítimas da poligamia, pouco fazem para que o mal aconteça, aceitando ser segunda ou terceira esposa de um indivíduo”, conta.
A actriz que fez o papel de Rami em “Niketche” - adaptação ao romance homónimo de Paulina Chiziane que Lucrécia Paco fez para se estrear como encenadora em 2006 – trabalhou em “A Filha do Polígamo” em Mayotte no ano passado, representada em francês. Diz ter sido uma boa experiência, gratificante por acontecer numa altura em que já tinha no horizonte a ideia de também montar um espectáculo. “Depois de trabalhar com o grupo de Mayotte decidi partir para um desafio que antes tinha medo de assumir. Mas foi esse o momento que decidi que passados tantos anos de palco que tenho devia dar este salto”.
A actriz do Mutumbela Gogo está no teatro desde os primórdios do grupo, em 1986. Aceitou fazer do palco a sua primeira casa, representando muitos papéis em muitas peças ao longo de duas décadas. A sua entrada para encenadora acontece praticamente depois de percorrer várias estações como actriz, sentindo-se agora suficientemente madura para actuar no outro lado de uma peça teatral. É caso para dizer que à encenação ela chegou, viu e quer triunfar. Não tem meta estabelecida, mas sim desafios para seguir. O maior é fazer das suas peças um debate aberto sobre a vida do seu país.
AGENDA - “Camões” e UEM promovem curso de Literaturas Portuguesas
O INSTITUTO Camões –Centro Cultural Português e a Secção de Literatura da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), realizam de 08 a 18 deste mês, o XIX Curso de Literaturas de Língua Portuguesa, na Sala de Conferências do Instituto Camões, de segunda a quinta-feira, entre as 18 e as 20 horas.
O programa deste curso, coordenado pelo Leitorado de Língua e Cultura Portuguesa da UEM, com o apoio do Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões na Universidade Pedagógica (UP), inclui oito palestras subordinadas ao tema geral A Convergência das Escritas.
Participam como palestrantes neste XIX curso os docentes da UEM Teresa Manjate, Gilberto Matusse, Nataniel Ngomane, Francisco Noa, Fátima Mendonça e, ainda, Inês Duarte da Universidade de Lisboa, a jornalista Paola Rolleta e o escritor Daniel da Costa.
No contexto deste curso estará patente no local uma exposição bibliográfica alusiva à obra dos escritores apresentados nas palestras, nomeadamente Cesário Verde, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Luís Bernardo Honwana, Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa, Sophia de Mello Breyner, Paulina Chiziane, Germano de Almeida e Eduardo White.
PROFESSORES E PAIS DEVEM OS MAIS NOVOS AO TEATRO
Encenadores nacionais tem vindo a apostar nos últimos tempos em obras de escritores moçambicanos para fazer as suas peças. É o retomar de uma prática antiga, que foi estranhamente esquecida em nome de peças cujos textos se caracterizaram pela total pobreza. No retomar desta prática, Lucrécia Paco adaptou para o Mutumbela Gogo o romance “Niketche”, de Paulina Chiziane.
“Isso é muito importante para os nossos encenadores, porque acaba trazendo uma mais-valia à própria escrita e valoriza a nossa literatura”. No entanto, para que o teatro desenvolta também é preciso gente que o vá ver. Segundo os nossos entrevistados “os poucos lugares com peças estão a ficar órfão de público, que em tempos ia para qualquer sala para ver seja qual fosse o grupo em cartaz”. O antídoto para esta situação parte – justificam – de casa e da escola. “É necessário que os pais levem os seus filhos ainda que uma vez por mês ao teatro. Os professores também podem encorajar os seus alunos para a terem gosto por esta arte, porque complementa o que se aprende na escola. “Seria interessante ver, por exemplo, jovens a assistirem em palco a peças como ‘Niketche’, de Paulina Chiziane adaptado por Lucrécia paco ou ‘Terra Sonâmbula’ de Mia Couto que foi adaptado por Elliot Alex. Isso enriquece o aluno em termos de cultura geral”.O grupo Luarte conta no seu currículo com dois prémios arrecadados no “Festival d’Inverno”, uma organização da associação cultural “Girassol” (que também tem um grupo de teatro que concorre na parada) e que conta essencialmente com colectivos amadores de Maputo e Matola. Em duas edições a que o Luarte foi convidado a participar e concorrer a prémios, foi agraciado. “Foi bastante estimulante porque sempre participamos no festival apenas com o intuito de demonstrar aquilo que fazemos modestamente. Ter prémios quando se é amador significa muito mais do que reconhecimento. É um encorajamento que se afigura necessário para nós”, afirma Chembene. O percurso do Luarte foi feito através de peças como “Matei e Morri por Amor”, “Loucura” (encenadas por Alex Eliott), “Joana Moçambique”, “Embrulhados na Inocência” (texto e encenação de Dadivo José) e “Celestina Puta Velha Casamenteira”. O Luarte participou com os seus actores na peça “Muno Munene”, uma co-produção entre o Instituto Cultural Moçambicque-Alemanha e o grupo Mutumbela Gogo.Dentre todas as obras, “Joana Moçambique” foi a mais divulgado e que mais projectou o nome do grupo no panorama das artes cénicas na capital do país. Terá sido até hoje a melhor obra do Luarte. Foi produzida na melhor altura e com os actores em “alta” de inspiração”. A peça mostra a realidade em que a sociedade vive, de forma nua e crua. “Mambacho” e Chembene lamentam até hoje não existir uma única escola de  artes dramáticas, onde desenvolveriam o seu talento e técnicas. Os nossos entrevistados defenderam o “retorno” a uma associação de teatro, mas que ressurja com propósitos claros que defendam os interesses dos fazedores de teatro.
Jornadas para discutir português e literatura
ARRANCA hoje, no Centro de Línguas da Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica, as VI Jornadas de Língua Portuguesa, que decorriam desde ontem e subordinadas ao tema “O Ensino da Língua Portuguesa em Contextos Multiculturais e Multilingues”.
O evento é promovido pelas universidades Pedagógica e Universidade Eduardo Mondlane.
Procurando descentralizar a reflexão feita em torno ensino da língua portuguesa em Moçambique e a divulgação das pesquisas realizadas nesta área, o local de realização das Jornadas tem alternado entre Maputo, Beira e Nampula.
Sendo Moçambique um país multicultural e multilingue, as Jornadas procuraram, desde o início, ser um momento de reflexão e debate sobre os desafios que o ensino da língua portuguesa enfrenta em Moçambique e os caminhos e possibilidades que se oferecem ao professor de Português.
As Jornadas da Língua Portuguesa têm-se vindo a afirmar como um momento privilegiado de divulgação das pesquisas feitas em Moçambique sobre a didáctica e o ensino da língua portuguesa, daí o interesse crescente dos investigadores destas áreas por este evento.
O Programa das VIas Jornadas da Língua Portuguesa conta com três palestras, 14 comunicações e diversos momentos culturais. O painel subordinado ao tema em destaque é constituído por investigadores de praticamente todo o país, onde se incluem nomes como os das investigadoras Perpétua Gonçalves, Fernanda Cavacas e Marisa Mendonça.
Esperam-se aproximadamente 200 inscrições para estas Jornadas.
Os estudantes dos cursos de Português da Universidade Pedagógica e da Universidade Eduardo Mondlane e os professores de Português da cidade de Maputo são os destinatários prioritários deste evento, embora as mesmas estejam abertas a todos os profissionais de ensino, nomeadamente os professores de Português.
Para hoje foram agendadas as palestras, “Uma língua a várias vozes”, “José Craveirinha: Um itinerário de Leitura”
Haverá oficinas que irão fazer abordagens sobre um texto literário em sala de aulas: uma reflexão sobre as práticas de ensino, bem como a importância do texto na aula de língua portuguesa.
“Considerações sobre a realização do no PM: uma observação baseada em estudantes dos cursos de ciências sociais e humanas”, “Implicações do modelo de transcrição na escrita em língua portuguesa”, “Empréstimos da língua Echuwabu ao Português” são as outras comunicações agendadas para terem lugar ainda hoje.
O mesmo acontece em relação aos temas “Modelização do silêncio em Jesusalém de Mia Couto”, “A Literatura como Janela sobre o contexto multicultural moçambicano na aula de Português: a magia negra na obra de Paulina Chiziane” e “Estudo Linguístico do discurso em Chicandarinha na Lenha do Mundo de Calane da Silva        “ que serão apresentados ainda hoje.
“Proposta de reflexão em torno do Processo de Ensino e Aprendizagem da Língua Portuguesa na Escola Primária Completa de Mugogodo: um imperativo educativo em prol da qualidade de ensino em Moçambique”, “A formação de professores para o ensino de Português no contexto multilingue de Moçambique: o caso do Centro de Formação de Professores de Nicoadala”, “O Papel da literatura oral no Ensino Bilingue/Multicultural Português-Xichangana” são as outras comunicações programadas para hoje.
Lina Magaia
LINA MAGAIA (1945-2011) - País perde uma lutadora
O DESAPARECIMENTO físico da escritora Lina Magaia colheu de surpresa os fazedores de cultura e gente de outros quadrantes em cujos domínios militou a malograda. Lina Magaia faleceu segunda-feira em casa, no bairro Triunfo, na cidade do Maputo, aos 66 anos, vítima de complicações cardíacas.
A escritora militou em vida em várias causas, sendo a mais nobre a luta pela Independência Nacional, onde foi combatente na clandestinidade e, depois integrante do Destacamento Feminino das Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM), antes da proclamação da independência nacional.
As exéquias de Lina Magaia deverão realizar-se nos próximos dias no Maputo.
A escritora Paulina Chiziane, que ainda “não acredita” na morte da Lina Magaia – “por ser injusto que ela tenha partido de repente” –, diz que a malograda soube fazer da vida um momento de luta para o bem dos seus compatriotas. “A Lina era escritora, mas era muito mais do que isso: uma lutadora. Moçambique não a reconheceu devidamente, mas penso que a sua obra já fala por si e nós ainda vamos nos recordar de todos os seus passos como alguém que estava a preparar o futuro de todos nós com as suas posições, com a sua escrita”, refere a autora de “Ventos do Apocalipse”.
Mia Couto, que com Lina Magaia comungou não apenas a escrita literária, mas também o jornalismo, recorda-se da mulher que mais descreveu o banditismo que caracterizou a guerra terminada em 1992 no país, como “uma saudável provocadora e figura de contestação construtiva”.
“Talvez tenhamos estado pouco preparados para ver uma figura como ela, pior ainda por ser mulher. Ela ia na margem dos seus argumentos e convicções para exprimir o que sentia em relação ao andamento do país. Era um exemplo de verdadeiro patriotismo”, assinalou o escritor e biólogo.
O jornalista Emmanuel Langa, da TVM, afirma-se admirador da escrita e da verticalidade da malograda, “uma grande escritora e retratista fiel da realidade moçambicana”. “Eu conheci Lina através dos seus livros e do contacto profissional que tive que ter com ela. Era uma verdadeira guerreira, vertical na defesa das causas por que lutava. Penso que as crónicas que amiúde publicava, sobretudo no “Notícias”, são o espelho da falta que fará a Lina Magaia”, observou o jornalista.
O cineasta Gabriel Mondlane recorda-se de Lina também em várias vertentes. “Ela fez muito na vida, era mula mulher carregada de cultura e inspiração para todos nós em termos de frontalidade. Por isso é uma perda irreparável”, comentou o realizador, sobre uma das figuras do filme “O Vento Sopra do Norte”, a primeira longa-metragem de Moçambique após a independência.
Nascida no Maputo em 1945, Lina Magaia foi membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos (NESAM), grupo que forjou alguns dos jovens nacionalistas que abraçaram a guerra de libertação nacional.
A sua paixão pelo jornalismo remonta dos princípios dos anos 1960, em que foi colaboradora em diversos jornais locais, entre os quais o “Brado Africano”, “Diário de Moçambique” e “A Tribuna”.
Por causa da sua militância na FRELIMO, Lina Magaia chegou a ser detida pela PIDE, em 1965. Após o golpe que acabou com o fascismo em Portugal (mas não com a guerra no Moçambique colonial, pelo menos antes de Setembro, em que foram assinados os Acordos de Lusaka), Lina Magaia seguiu para a Tanzania, então base da organização nacionalista moçambicana, tendo sido enquadrada no Destacamento Feminino.
Depois da independência, Lina destacou-se mais como escritora, sobretudo a partir de meados dos anos 1980, quando começou a retratar em livros os momentos trágicos da guerra terminada em 1992. Da sua escrita deixa como legado os livros “Histórias Trágicas do Banditismo” (em dois volumes), “Dumba Nengue”, “Duplo Massacre em Moçambique”, “Delehta: pulos na vida” e “Recordações da Vovó Marta”, este lançado em Fevereiro e versando sobre a história de Marta Mbocota Guebuza, a mãe do Chefe do Estado, Armando Guebuza, para além de crónicas dispersas em jornais, a maioria das quais no “Notícias”.Lina Magaia é irmã do também já falecido jornalista e escritor Albino Magaia que foi, igualmente, um nacionalista que, na clandestinidade, se empenhou na luta pela independência de Moçambique, tendo sido detido pela PIDE durante a década de 1960 na companhia de outros moçambicanos.




Rui Ngozane
Elevar o nome do país - Rui Conzane, deputado pelo círculo da Europa e Resto do Mundo
ESTAMOS no intervalo entre a III e IV sessão da Assembleia da República. Os deputados estão nos respectivos círculos de eleição a fiscalizar as actividades do Governo. Da diáspora, chegam-nos indicações de que o círculo da Europa e Resto do Mundo precisa de saber um pouco mais sobre o processo de desenvolvimento sócio – económico do país.
E essa responsabilidade cabe, agora, ao deputado Rui Sixpence Conzane eleito por este círculo que em entrevista ao “Notícias” reconhece o peso que leva às costas. Conzane promete que ao longo do seu mandato tudo fará para elevar o nome do seu país no além fronteiras, contribuindo para o rápido crescimento do país.A seguir, alguns extractos mais significativos da referida entrevista.
Noticias (N) – Como é visto Moçambique na Europa e Resto do Mundo? País desconhecido?
Rui Ngozane (RG) – Infelizmente Moçambique continua um país desconhecido, em particular na Alemanha, onde resido. Mas para elevar o nome do país, em 2008 a Embaixada de Moçambique e o Fórum Moçambique/Alemanha organizaram conjuntamente o que se chamou de Semana Moçambique. Ao longo da mesma fomos honrados com a presença de mais de 70 convidados, maioritariamente vindos de Moçambique. Importa destacar a presença da Companhia Nacional do Canto e Dança, a escritora Paulina Chiziane, o Grupo Teatral Mutumbela Gogo, os músicos Neyma, Stwart, Wazimbo e Mingas, o escultor Mankeu e tantos outros que transmitiram ao moçambicanos residentes e aos alemães o calor da mocambicanidade. Foi uma semana que serviu para divulgar as potencialidades sócio-culturais do nosso pais, contando que esteve também presente o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói.
N – Integra o chamado grupo de integração criado pela Chanceler Alemã, Ângela Merkel. Qual a função específica deste grupo?
RG – Integro, sim. Fui escolhido precisamente por ser o Presidente do Fórum Moçambique/Alemanha. Um dos objectivos da comissão é discutir com o Governo alemão os inúmeros desafios que as comunidades imigrantes enfrentam neste país. Dentro da comissão procuram-se respostas para ajudar e/ou facilitar a integração dos imigrantes. Por razoes históricas, a maior comunidade estrangeira na Alemanha é turca. Todavia, há lá várias outras comunidades incluindo a moçambicana que necessita dessa integração. A iniciativa da chanceler é de louvar.
N – Estamos no intervalo entre duas sessões da Assembleia da República. Qual, na verdade, será a sua agenda?
RG – Primeiro vou visitar as comunidades na Alemanha e em Portugal. Vou realizar encontros de auscultação sobre as suas reais preocupações e vou transmiti-las as decisões saídas da última sessão da Assembleia da República. Na Alemanha temos comunidades moçambicanas maioritariamente nas cidades de Dresden e Berlim enquanto que em Portugal, nas cidades de Porto, Lisboa, Coimbra e Faro. Vou intensificar os contactos com estas comunidades e vou também trabalhar com as representações diplomáticas de Moçambique nestes dois países. Da Franca e da Holanda, onde também temos muitas comunidades, recebi convites para me deslocar, mas ainda não estabeleci datas para o efeito. Sei porém, que isso vai acontecer antes da próxima sessão.
N – De que modo a crise financeira mundial interfere na realização das suas actividades?
RG – Infelizmente esta crise obriga alguns compatriotas a passarem mal, principalmente aqueles que residem por estas terras sem que tenham a documentação regularizada. Nós incentivamos a esses cidadãos a oficializarem a sua permanência. Mas uma coisa é certa: nós moçambicanos somos trabalhadores e respeitosos. Isso facilita a nossa integração e o nosso modo de viver fora do país. No meio de todas estas dificuldades, cada moçambicano na diáspora procura ganhar a vida a sua maneira. Aliás, é assim que age cada país: assegurar o bem estar dos seus cidadãos e depois os imigrantes. E mais: esta crise faz com que milhares de pessoas, incluindo os donos da terra vivam no desemprego, dificultando as suas próprias vidas
N – Quantos moçambicanos vivem oficialmente na Alemanha?
RG – Estão a residir oficialmente neste país 2500 compatriotas. Porem, precisamos de dados mais actualizados da embaixada, porque, acredito, o número pode ser um pouco mais superior.



 
 
IDEIAS - Uma “redescoberta” da literatura africana
A EDITORA da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colocou no mercado uma nova colecção, Poetas de Moçambique, em que apresenta antologias dos maiores poetas modernos de língua portuguesa e origem moçambicana. 
 
Segundo a editora, os autores escolhidos estabeleceram frequentemente diálogo com a literatura brasileira, especialmente com as obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Manuel Bandeira (1886-1968). Os primeiros volumes são dedicados a José Craveirinha (1922-2003) e Rui Knopfli (1932-1997).
Craveirinha, primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, em 1991, é um dos nomes fundamentais da literatura moçambicana.  Filho de pai algarvio e mãe ronga, é dono de uma obra concisa, que cobre cinco livros publicados em vida e duas colectâneas póstumas, além de dezenas de poemas espalhados em periódicos e antologias.  Este livro reúne os principais poemas do autor com nota biobibliográfica de Emílio Maciel.
Já Rui Knopfli produziu uma encorpada e original obra literária durante o período colonial. Seus poemas seleccionados estabelecem diálogo com as principais tradições clássicas e modernas da poesia. O livro traz posfácio com texto crítico e nota biobibliográfica de Roberto Said.
Ao mesmo tempo, a Ateliê Editorial, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), acaba de lançar Portanto... Pepetela, organizado por Rita Chaves e Tania Macêdo, professoras de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP). O angolano Pepetela, nascido Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, ganhador do Prémio Camões de 1997, é talvez o mais importante romancista de seu país. Com apresentação do moçambicano Mia Couto, o livro reúne 38 artigos e ensaios de estudiosos da obra de Pepetela.
Nada mais alvissareiro do que essa “redescoberta” da literatura africana de expressão portuguesa. Mas desses três autores, apenas José Craveirinha é resultado da mistura do sangue português com africano. O que se espera é que esse interesse não se restrinja apenas a autores luso-descendentes, mas seja aberto a todos os africanos que fazem literatura em Língua Portuguesa.
                                                           IINada contra Pepetela, Agualusa, Mia Couto ou Luandino Vieira, nomes hoje incontestáveis no panorama da literatura africana de expressão portuguesa. O que se estranha é por que só descendentes de portugueses que nasceram em terras africanas têm largo espaço nos veículos de comunicação de Portugal e nas universidades de Portugal e do Brasil.
Basta ver que o livro Portanto... Pepetela traz, ao final, uma lista de 56 teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas em universidades brasileiras sobre a obra de Pepetela. Um exagero, evidentemente, porque há muitos outros autores africanos de expressão portuguesa que poderiam ser estudados. E não o são. Não se quer acreditar que seja por racismo, pois o que se espera é que esse tipo de comportamento seja algo já superado, sem razão de existir neste começo de século XXI.
Talvez seja ainda a "saudade do império colonial perdido", como disse Patrick Chabal, professor de Estudos Africanos do King’s College, de Londres, para se citar aqui um nome isento destas questiúnculas lusófonas, que impeça os académicos e editores portugueses de enxergar que a lusofonia é uma falácia – que não vai chegar a lugar nenhum – enquanto eles não aceitarem a verdadeira dimensão da língua portuguesa para além da Europa.
Em outras palavras: Pepetela, Agualusa, Mia Couto e Luandino Vieira fazem parte da última geração de luso-descendentes que, nascidos em África, praticam uma literatura com vivência africana. Dentro de 20 ou 30 anos, quando provavelmente já não estiverem mais neste mundo, quem irá representar a Literatura Africana de expressão portuguesa senão os autóctones ou um ou outro miscigenado?
Portanto, o futuro da Língua Portuguesa na África vai depender dos naturais desses países por onde os portugueses criaram raízes – e também daquelas regiões que, hoje, sofrem com a opressão de vizinhos que não falam português. É o caso da Casamansa, província do sul do Senegal, que ainda aspira livrar-se da opressão de Dakar para se tornar um país independente e membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Será que em Casamansa não há um único poeta ou escritor que escreva em português? Ou somos nós que não queremos vê-los?
Como dizia o escritor moçambicano João Craveirinha, por mais que se assumam "lusófonos", os escritores de tez escura serão sempre os "outros", os outsiders, os ex-colonizados. Entre esses, além de João Craveirinha, pode-se citar de uma enfiada Paulina Chiziane, Ungulani ba Ka Khosa, Nelson Saúte, Noémia de Sousa, Kalungano, Luís Bernardo Honwana e Suleimane Cassamo, de Moçambique; Adriano Mixinge, João Melo, Ondjaki, Victor Kajibanga, Uanhenga Xitu, Ana Paula Tavares, Luís Kandjimbo, de Angola; José Luís Hopffer Almada e Germano Almeida, de Cabo Verde; Abdulai Sila, Hélder Proença (?-2009) e Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Alda do Espírito Santo e Tomás Medeiros, de São Tomé Príncipe. E muitos outros.
O que é preciso dizer – e quase ninguém o faz – é que persistir nessa visão preconceituosa é um erro, que equivale a dar um tiro no próprio pé, pois recusar-se a reconhecer que o futuro da Língua Portuguesa na África depende dos naturais daqueles países é condená-la ao desaparecimento. E olhem que quem escreve isto é um brasileiro de primeira geração, de pai português de Paços de Ferreira, Norte de Portugal, e de avós maternos açorianos.
                                                           III
Embora o desconhecimento no Brasil acerca dos assuntos africanos seja abissal, não se pode deixar de reconhecer que foi graças aos literatos brasileiros que a Língua Portuguesa continuou viva nas décadas de 1950, 60 e 70 na África de expressão portuguesa, especialmente entre aquela camada mais culta, que gostava de ler Jorge Amado (1912-2001), Érico Veríssimo (1905-1975), Guimarães Rosa (1908-1967) e outros tantos.
Rui Knopfli mesmo é um poeta fortemente influenciado pela literatura brasileira, além de suas grandes ligações com a poesia portuguesa moderna. De africano, só carrega o facto de ter nascido em Inhambane. Trata-se de um fino poeta, cuja poesia está entre o que de melhor se escreveu em Língua Portuguesa no século XX, mas que, ao contrário de Pepetela que permaneceu em Angola e lutou contra o colonialismo, deixou Moçambique tão logo que o país se separou de Portugal. Jamais se assumiu "moçambicano" no anterior e muito menos no actual contexto africano e sociopolítico do pós-independência. Assumiu-se, sim, como um português de Moçambique agastado com os "pretos" da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que queriam ser iguais aos "brancos".
A visão que Knopfli tinha da África era eurocêntrica, de um colono que pertencia a uma elite colonial intelectual que, provavelmente, sonhava com um Moçambique semelhante à Rodésia ou à África do Sul sem apartheid, mas com os chamados “brancos” a mandar nos "pretos", ou seja, “cada macaco no seu galho", para se repetir aqui uma expressão politicamente nada correcta que se ouve ainda neste Brasil de racismo disfarçado. A lusitanidade europeia de Knopfli sempre falou mais alto.
Quem conhece a vida moçambicana pré-independência sabe muito bem que Knopfli atacara a arte banta do escultor Alberto Chissano e do pintor Malangatana em termos depreciativos, como a dizer que eles nunca poderiam ascender a artistas plenos em razão da sua origem "primitiva", tal como os "bons selvagens" de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que seriam congenitamente limitados. Isto está na revista Tempo, de Lourenço Marques (hoje Maputo), dos anos 1970-1971. Quem duvidar que consulte na Biblioteca Nacional de Lisboa a colecção da revista. Mas é claro que isto ninguém gosta de lembrar.
Como se sabe, em África os conceitos não são os mesmos vigentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa em relação ao ser e estar africano. Até porque na África os "nativos" não foram exterminados como os ameríndios nas Américas. E, como continuam a sê-lo no Brasil em pleno século XXI. Para se ter um exemplo desse holocausto, basta ver que os traços indígenas hoje são pouco perceptíveis no brasileiro médio, excepto talvez no homem do Centro-Oeste e do Amazonas, ao contrário do que se pode constatar no Chile, no Paraguai, na Bolívia, no Equador e até na antigamente tão conservadora Argentina. Basta ver o que fazem, nos dias de hoje, certos fazendeiros e seus capangas com os caiowás, em Mato Grosso do Sul, sem que as autoridades tomem qualquer providência mais efectiva.
Na África, os autóctones continuam a ser maioria esmagadora e isso tem um peso enorme na consciência dos africanos, mesmo em meio a crises económicas. Até mesmo porque eles estavam num estágio de desenvolvimento superior ao dos indígenas americanos, o que obrigou a chamada colonização portuguesa a restringir-se a vilas e destacamentos litorâneos. Até mesmo para “atravessar” o comércio da escravatura, os portugueses dependiam de nações africanas que traziam subjugados seus inimigos para comercializá-los nas praias. Com isso, a ocupação europeia, de um modo geral, nunca conseguiu apagar no homem africano o grande sentimento de pertença ao legado banto.
Como tudo isso são águas e ressentimentos passados, o que importa hoje é preservar a Língua de Camões também na África. E essa preservação passa por um apoio mais decisivo em favor da divulgação e estudo da literatura de expressão portuguesa que é hoje praticada por africanos de todos os matizes de pele, indistintamente.
_______________________
PORTANTO... PEPETELA, de Rita Chaves e Tania Macêdo (organizadoras). São Paulo: Ateliê Editorial/Fapesp, 2009, 389 págs.
ANTOLOGIA POÉTICA, de José Craveirinha. Organizadora: Ana Mafalda Leite. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 198 págs.
ANTOLOGIA POÉTICA, de Rui Knopfli. Organizador: Eugénio Lisboa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 206 págs.
  • Adelto Gonçalves
 
 
Escritores moçambicanos na Bienal do Livro do Brasil
Os escritores moçambicanos Ungulani Bha Ka Khosa, Paulina Chiziane e Domi Chirongo vão participar na Primeira Bienal do Livro no Brasil que vai acontecer entre os dias 14 e 23 de Abril deste ano.
 
No evento estarão outros escritores africanos, entre eles o angolano Ondjaki e o cabo-verdiano Germano Almeida. A Bienal contará também com a presença de Wole Soyinka, o primeiro africano a receber o Nobel da Literatura.
Além dos escritores dos países africanos de língua portuguesa, vão também participar escritores falantes de outras línguas como a australiana Gill Pittar, o britânico Richard Bourne e o americano Daniel Polanski. A Bienal vai transformar Brasília, capital do país, num palco de lançamentos, debates, palestras e exposições. O evento quer atrair o público para palestras gratuitas que debaterão, entre outros, o tema “A Literatura Contemporânea da África Portuguesa.
 
 
Fazedoras da cultura embaixadoras sociais
A escritora Paulina Chiziane e as cantoras Mingas e Marlene acabam de ser designadas embaixadoras para promoção de diversas causas sociais.
 
Assim, Paulina Chiziane foi designada Embaixadora de Boa Vontade pela União Africana, para promover a paz e segurança no presente ano, Mingas foi certificada pelas Nações Unidas para contribuir na redução da mortalidade infantil, no contexto do quarto Objectivo de Desenvolvimento do Milénio e, por fim, a jovem Marlene, indicada pela Urgades, passa a ser embaixadora para a luta contra a malária, HIV/SIDA e tuberculose.
 
 
Identidade Africana em reflexão
 
A SEMANA da Identidade Africana, cujo lançamento oficial se realizou ontem, em Maputo, é um espaço criado por organismos da sociedade civil, académicos e artistas para reflectir sobre o futuro do continente africano, olhando para pressupostos como passado e presente.
Organizado pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), em parceria com o Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, Universidade Politécnica, Instituto Superior de Ciência e Tecnologia de Moçambique, Sociedade Aberta Fundação Steve Biko, entre outras agremiações, pretende que haja um diálogo aberto e permanente quanto ao que é uma visão mais positiva sobre África.
Com efeito, ao longo deste evento que vai decorrer até sexta-feira, serão analisados vários aspectos que dizem respeito à vida do continente negro, como são os casos da política, artes e cultura, desenvolvimento económico, valorização do conhecimento africano.
Para além da projecção de filmes e documentários, haverá conferências, aulas magnas e workshop’s sobre História, Política e Relações Sociais em África.
Artes e indústria cultural, bem como os símbolos africanos à par da riqueza, recursos naturais e desenvolvimento económico serão outros temas em discussão.
Como oradores foram chamados José Luís Cabaço, Armindo Ngunga, Lourenço do Rosário, Severino Ngoenha, Kofi Asare Opoku e Wambui Mwangi, estando igualmente presentes os escritores Paulina Chiziane e Ayi kwei Armah.
Estarão ainda presentes os artistas Malangatana, Naguib, Maria Helena Pinto, Neo Muyanga bem como representantes e estudantes das escolas de Artes Visuais e do Instituto Superior de Artes e Cultura.
 
 
Igualdade do género marca dia da mulher
POR ocasião de 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e 7 de Abril, data em que se celebra o Dia da Mulher Moçambicana, foi lançada recentemente em Maputo uma agenda de actividades que tem como pano de fundo reflectir essencialmente a mulher na sua mais diversificada faceta, particularmente no que diz respeito `a luta pela igualdade do género e emponderamento.
 
As actividades arrancam no próximo dia 8 com uma mesa-redonda que contará com mulheres escritoras, nomeadamente Paulina Chiziane (Moçambique), Conceição Evaristo (Brasil) e Rachel Uziel (Franca), sob moderação do escritor Mia Couto. O evento é levado a cabo pela Organização da Mulher Moçambicana (OMM) e pelo Centro Cultural Franco-Mocambicano. Entre outras actividades para assinalar as duas efeméridades consta a projecção de filmes, deposição de coroa de flores no Monumento dos Heróis Moçambicanos e entrega de enxovais aos primeiros bebes nascidos a 7 de Abril.
Fonte: http://www.jornalnoticias.co.mz

Sem comentários:

Enviar um comentário