Cultura em tempo de Natal junta jovens em Laulane
A peça conta a história de uma criança que veio ao mundo para livrar a humanidade da vida melancólica em que esta estava mergulhada há mais de mil anos, sem que as soluções fossem previsíveis.
Após a chegada da criança à terra, ela reuniu os povos de todos os quadrantes para anunciar-lhes o fim do sofrimento, bastando apenas o cumprimento das leis da Bíblia Sagrada e o respeito pelo semelhante, tendo sido primeiramente as suas palavras rejeitadas por grupos de pessoas que consideravam que ninguém era capaz da acabar com o sofrimento dos Homens.
De acordo com o encenador da peça. Alexandre Cuna, esta história assemelha-se à da chegada de Jesus Cristo e apela aos Homens para a necessidade de se precaverem dos perigos existente no mundo e que segundo o livro sagrado dos cristãos, para se ultrapassar esses obstáculos é necessária a união das forças humanas. Também se destina a reflectir sobre a forma como os mandamentos de Deus são concebidos e o poder que eles têm de transformar a vida do Homem.
A apresentação desta acontecerá numa sessão que incluirá várias outras realizações culturais, como são os casos da declamação de poesia, cantos diversos, música e interpretação de obras literárias.
As crianças estão encarregues de apresentar danças tradicionais e cantos exigindo os seus direitos e pedindo aos seus progenitores bons cuidados e apelando aos adolescentes e jovens para uma mudança de comportamento.
Cristina Macamo, representante das crianças naquele espaço de manifestação cultural, disse que actividades levadas a cabo por crianças visam mostrar aos pais e encarregados de educação do que elas são capazes, ao mesmo tempo que se apela para que auxiliem os petizes a descobrirem e desenvolverem as suas habilidades.
Entretanto os jovens irão subir ao palco para manifestarem-se culturalmente assim como declamar poesia e interpretar obras de autores moçambicanos com destaque para José Craveirinha, Mia Couto, Noémia de Sousa e Paulina Chiziane, considerados figuras emblemáticas da literatura moçambicana.
“Das Palavras Escritas” colocado nas livrarias
Diccionário político moçambicano - G. de governação
O conceito de “governação” é contra a criatividade. Introduz ordem. Governar não é coisa de prioridades individuais, formas de negociação individuais, atenção ao momento, sensibilidade para o local, empatia. Nada disso. Governar é fazer o que é correcto. E fazer o que é correcto é respeitar à risca o fenómeno geral. O mundo reduz-se ao fenómeno geral. O fenómeno geral insinua-se em tudo, reproduz-se em tudo, toma tudo de assalto. O uso que se faz da língua nos nossos dias é arrepiante. Empresas, organizações não-governamentais, e mesmo clubes desportivos têm uma “filosofia” e distribuem “literatura”. Filosofia? E o que escreveu Immanuel Kant? Também filosofia? Não há diferença? Enfim! Dizem que têm literatura. Literatura? Se esses panfletos publicitários são “literatura”, então o que andaram a escrever o Mia Couto, o Ungulani Ba Ka Khosa, a Paulina Chiziane, o Luís Bernardo Honwana, o João Paulo Borges Coelho? Também literatura?
Os mais arrojados não se contentam em dizer “governação”. Até lembra o “Animal Farm” de George Orwell. Dizem “boa governação” e fica aquele sabor amargo na boca que vem daquela ideia de que algumas pessoas podem ser mais iguais que outras. Bom, não vou insistir muito nisto, porque senão ainda me vejo obrigado a convocar uma revolução linguística para expurgar a nossa língua dos eufemismos que nos obrigam a ser cada vez mais verbosos na fala. É assim mesmo com a inflação. Quanto menos valor tem a palavra, mais palavras precisamos para comunicar uma simples ideia. Temos “parceiros” que não são parceiros. Temos “deputados” que não são deputados. Temos um “partido” que na verdade sempre foi um todo. Temos “empresários” que na realidade são simples “facilitadores”. Temos “universidades” que são particularidades. Mas que estou eu a dizer de novo? Já os Ghorwane tinham falado destas coisas na sua composição sobre o nosso mundo do avesso.
O que acho realmente interessante no conceito de “governação” é a forma fria e cruel como liquida a criatividade. Na verdade, para os bem intencionados, aqueles que ainda poderiam dizer, em defesa do conceito, que o estilo pessoal pode significar também corrupção, nepotismo e clientelismo, diria eu que essa é a forma como o conceito se impõe. Reduz a criatividade ao que não é bom. Ser criativo é governar mal. Governar bem é seguir a regra. Seguir a regra é ser aborrecido. Ser aborrecido é que é bom para o desenvolvimento. Precisaria de muito espaço para explicar o assunto com cuidado, e, felizmente, tenho a desculpa de que não tenho tempo para procurar esse espaço, pelo que o que posso mesmo dizer por enquanto é que o conceito de governação não é a solução dos nossos problemas, mas sim o problema. É assim: para fazer o que é correcto é preciso criar primeiro as condições. Por exemplo, para que o sistema de prestação de contas funcione sem a nossa criatividade natural, é necessário que seja montado. Para o montar, é necessário consultores, seminários, “workshops”, estudos de avaliação de impacto, viabilidade, progresso, reuniões de concertação, grupos de contacto, formação de monitores, formadores, disseminação, sensibilização dos grupos-alvo, assessoria técnica, definição clara das regras de “procurement”, formação de oficiais de aprovisionamento, articulação com o Plano Económico e Social, integração no PARPA II, ajustamento com o mecanismo de revisão de pares, auscultação do Grupo-20, verificação de compatibilidade com a Agenda 2025, integração nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, reconciliação com os 7 milhões, etc. E cada uma destas coisas vai criando os seus próprios mundos, os seus interesses, conflitos, zonas de tensão, oportunidades de empreendedorismo secundário, etc. Quando é que ainda vão ter tempo de governar?
- ELÍSIO MACAMO - Sociólogo /Nosso colaborador
Plano Nacional de Leitura: Tábua de salvação para dinamização literária
O que temos constatado[1] em Moçambique é que, com certeza, os programas de incentivo ao gosto pela leitura e pela literatura têm surtido algum efeito, na medida em que, são transformadores de consciências, geradores de mais leitores e dinamizadores literários e, até certo ponto, de novos escritores.
Tal é o caso de escritores surgidos dos núcleos, associações ou movimentos literários Charrua[2], Xitende, Oásis e União Nacional de Escritores – UNE, surgidos nos anos 90; uns como resultado do trabalho realizado pela Associação De Escritores Moçambicanos – AEMO e outros com intuito de se afirmarem perante a hegemonia daquela associação. Existem, também, escritores que não estando integrados em nenhum desses movimentos, merecem ser mencionados na arena literária moçambicana. Refiro-me à Paulina Chiziane, Márcia dos Santos, Sónia Sultuane, Awaji Malunga, João Paulo Borges Coelho, Rogério Manjate, Stélio Inácio, Adolfo Sapala, Adelino Timóteo, entre outros.
O que se tem verificado, com algum desencanto, é o facto de o livro ainda ser considerado objecto de luxo, pelo preço a que é vendido e por causa disso a literatura fica relegada ao lugar de fenómeno para uma elite.
Este elitismo choca sobremaneira aquilo que são os objectivos do milénio, uma vez que eles preconizam a erradicação da pobreza. Acredita-se que o êxito nessa tarefa passa pela valorização da cultura que pressupõe a inclusão social (PNUD 2004), a criação de hábitos de leitura e consequentemente da literatura que deverão permitir a execução adequada de prioridades económicas como a saúde e a educação.
A cultura determina a maneira e a qualidade pela qual qualquer actividade económica é realizada e, por isso, uma aposta baseada na sua disseminação poderá fortalecer a economia de um país, por permitir: a formação da identidade; o exercício da cidadania; a participação social, através da qual qualquer cidadão pode usar das suas habilidades para se expressar, quer pela música, cinema, teatro, jornalismo, dança, literatura ou pela moda (MERCADANTE: 2003).
A cultura permite ainda uma inclusão social feita através da geração de renda que propicia a criação de emprego e de mão-de-obra e venda de produtos artísticos, ou a comercialização de manifestações artísticas.
Em Moçambique, o fenómeno cultural está longe de ser o alicerce para o desenvolvimento do país. No que concerne ao livro, embora existam programas e projectos institucionais dedicados especialmente à leitura e a literatura, ainda não há resultados animadores. A questão que se coloca é que muitos desses programas são efémeros, outros há que não se expandem à uma dimensão nacional. Outros ainda, por serem de carácter obrigatório, não surtem o efeito desejado.
Programas de promoção de hábitos de leitura e gosto pela literatura
Estudos feitos por especialistas ou instituições ligadas `a promoção do livro revelam que a leitura e o gosto pela literatura não são um dado adquirido. Dessas pesquisas parece-nos pertinente mencionar:
O Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação - INDE que realizou entre 1993/94 uma pesquisa com a qual concluiu que em Moçambique não se lê.
O Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa - FBLP que efectivou em 1995[3] dois inquéritos para apuramento de hábitos de leitura. Esses inquéritos mostraram que, aparentemente, as pessoas gostavam de ler.
Porém, tal como o estudo refere, alguns lapsos no preenchimento do formulário de inquérito e o universo escolhido poderão ter influenciado a conclusão pois, os hábitos de leitura estão relacionados com a profissão e a ocupação dos inquiridos. Mais ainda, aqueles indivíduos sugeriram que liam mais livros técnico - científicos, jornais e revistas do que literatura de ficção.
A “Revista Proler”, propriedade do FBLP, entre 2001 e 2002 fez várias entrevistas que deixaram claro que é urgente o incentivo aos hábitos de leitura, nos estudantes, e que o gosto pela literatura passa pelos hábitos de leitura, entre outros.
Nesse quadro que demostrou que ainda não há hábitos de leitura em Moçambique, a revista revelou que 80% dos frequentadores de bibliotecas fazem-no por motivos escolares.
Perante o pano de fundo acima descrito perguntamo-nos sobre qual a possibilidade de contribuir com novos saberes ou novas dinâmicas e criação literária capazes de incentivar mais e mais leitores, escritores e dinamizadores literários? Perguntamo-nos ainda se a causa da falta de hábitos de leitura ou de valorização do livro devia-se à ausência de programas de incentivo e dinamização literária.
Jornalistas devem distanciar-se das paixões da classe política - afirma Lourenço do Rosário, numa dissertação sobre “Cobertura Jornalística em Período Eleitoral
O capítulo da Constituição que versa sobre Direitos, Liberdades e Garantias abre um vasto campo em que nós, académicos, e vós, da Comunicação Social, devemos andar de mãos dadas para melhor interpretar o que nele está plasmado e permitir que, com a nossa leitura, os cidadãos trilhem com conhecimento claro os caminhos da democracia. Por isso, o nosso compromisso principal e comum é com a verdade. Porém, o conceito verdade nao tem um sentido unívoco, pois nele se entrecruzam a objectividade do facto e a subjectividade do ponto de vista. Quer isto dizer que o espaço entre o objecto e o sujeito que focaliza o dito objecto, dependendo do ângulo em que o referido sujeito se coloca, estabelece necessariamente um foco que será visualizado por quem será transmitida a respectiva imagem. Por outras palavras, a mensagem que produzimos sobre uma determinada realidade depende sempre de como nós próprios olhamos essa realidade em função do nosso próprio ponto de vista. Na língua, por exemplo, a escolha entre uma frase na activa ou na passiva não é arbitrária. Se dissermos que “David venceu Golias” ou “Golias foi vencido por David”, o foco do facto desloca-se, dando dimensões semânticas diversas ao sujeito e ao objecto da acção do verbo. Por isso mesmo, o erro gramatical que muitos de nós, moçambicanos cometemos em português quando queremos passar a frase activa do tipo “O José deu-me uma camisa “ para uma passiva “Eu fui dado uma camisa com José”, o foco semântico da verdade do sujeito da passiva não é o objecto directo da acção na activa, uma camisa, mas sim o objecto indirecto da doação, que sou eu a quem foi dada a camisa.
Os direitos, as liberdades e as garantias, consagrados na Constituição, não são naturalmente enumerados objectivamente, mas sim enunciados. Isto é, nós sabemos que temos o direito de eleger e ser eleitos, dentro de determinados parâmetros, sabemos que temos o direito de informar e ser informados, nos termos estabelecidos por lei, sabemos que temos liberdades de expressão, opinião e pensamento, há a garantia de igualdade e não discriminação e somos protegidos pela garantia do bom nome, honra e presunção de inocência até que se prove que prevaricamos em algo previsto e punido nos termos estabelecidos. Nós, como cidadãos, somos convidados a referendar os termos que regulem as nossas vidas, quer de uma forma directa ou indirecta, através de representantes que escolhemos de tempo em tempo para o efeito. E é nesta teia que criamos que se estabelecem as instituições de gestão, monitoria e repressão. Nós, académicos, e vós, da comunicação social, enquadramo-nos no espaço da monitoria, isto é, compete-nos a missão de avaliar, verificar, acompanhar, detectar falhas, sugerir soluções e eventuais derivações, revelar perigos escondidos e produzir instrumentos apropriados para a optimização da vida de todos, melhor capacidade de avaliação dos fenómenos que vão acontecendo.
O nosso compromisso com a verdade não faz de nós monocolores nem monocórdicos pelas razões que apontei atrás e que estão relacionadas com a natureza do conceito verdade. Por isso, no capítulo da Constituição que citei, também se consagra o direito à diferença e a garantia do respeito por quem pense diferente. E é aqui que me parece que se situa a principal questão, objecto da minha reflexão, isto é, o respeito ao direito à diferença e o respeito à garantia da liberdade de se ser diferente. Trata-se de um exercício muito difícil de executar porque o mesmo tem implicações intrincadas de natureza psicológica e social. É por isso que, muitas vezes, quando um determinado académico ou um jornalista, usando do seu direito de liberdade de expressão se pronuncia sobre uma determinada matéria, aparecem logo aqueles que se dizem apoiantes, quer mesmo os que não se consideram apoiantes, a apontá-los como corajosos. A pergunta que fica é, corajoso em relação a que combate? Será que o exercício de um direito previsto e consagrado na Lei fundamental necessita de uma dose de coragem para ser posto em prática? Será que o exercício do direito de liberdade de expressão é um combate? E por que razão deve ser considerado um combate? E por que será que se infere que quem não fala tem medo? Muitas questões que aqui coloco mereceriam uma reflexão em outros espaços, por isso, apresento-as apenas de uma forma indicativa.
Se olharmos para trás e se quisermos percorrer o espaço de tempo da nossa vida enquanto sociedade de liberdades individuais e colectivas consagradas na Constituição democrática multicromática, isto é, de 1990, que é quando se estabelece o princípio da diversidade e se estabelecem as liberdades democráticas plasmadas pelo multipartidarismo, e 2009, verificamos que houve um crescimento real na tomada de consciência dos valores democráticos. As instituições de gestão e monitoria que não só do Estado consolidaram-se e as de repressão ganharam consciência das suas insuficiências e reconhecem que devem acertar o passo. Quer isto dizer que falar de jornalismo e cobertura dos períodos eleitorais é dissertar sobre conceitos e práticas com um olhar diacrónico, isto é, como éramos, temos sido e somos hoje, nós, jornalistas, e nós cidadãos.
INFORMAR COM SERNIDADE
Este encontro organizado pelo Conselho Superior da Comunicação Social pretende fundamentalmente, quanto a mim, produzir um pensamento metacrítico, isto é, uma crítica à crítica de lá para cá, de modo a ler todos os passos dados, quais os principais ganhos a reter, que desvios a corrigir e que parâmetros a recomendar. Sem ser normativo, visa no fundo criar um espaço em que o choque entre ideias e mentalidades permita criar dinâmicas que impulsionem o necessário passo em frente.
Em 1994, ano das primeiras eleições multicromáticas, atrevo-me a dizê-lo de uma forma crua, isto é, sem qualquer cozinhado, a nossa sociedade encontrava-se, toda ela, praticamente manietada por um espartilho maniqueísta. Os nossos olhares só podiam ver dois tipos de grupos, os bons de um lado, de preferência o nosso, e os maus, que se encontrariam do outro lado, qualquer que fosse o campo que ocupássemos. Não é por acaso que isso se reflectiu, quer na primeira Assembleia da República multipartidária em que a maior parte dos discursos se centrou na exorcização dos fantasmas que a prolongada guerra semeou nas nossas memórias, quer mesmo na literatura em que as obras de autores consagrados como Mia Couto, em “Terra Sonâmbula”, “A Varanda do Frangipani” e, sobretudo, em “O Último Vôo do Flamingo”, e Paulina Chiziane em “O Sétimo Juramento”, mas sobretudo em “Ventos do Apocalipse”, em que a caracterização do ambiente romanesco se sistematiza fatalmente em universo dos maus e universo dos bons, em que o abismo ficcional toma conta da trama. Não é também por acaso que nós próprios, académicos e jornalistas, abordávamos com muito pudor determinados assuntos, cientes embora do nosso papel e do compromisso com a verdade, mas que para construirmos a nossa verdade sentíamos imensa dificuldade em situar a nossa focalização, muitas vezes não era por medo, mas sim porque as ideias voavam da nossa mente. Numa sociedade dominada pelo espírito maniqueísta, o sentimento de vergonha domina as nossas mentes, temos vergonha de quem não está sintonizado connosco e sentimos pena de quem achamos que está cego. Sugiro que revisitem os textos e as falas que produzimos na época, para vermos à distância quão difícil é reconhecer grande parte do que foi produzido e se corresponde ou não à equação estabelecida e consagrada na Constituição sobre Direitos, Liberdades e Garantias. É tudo um processo. Nas eleições de 1999 e sobretudo nas de 2004 o processo foi encarado com maior naturalidade e a serenidade tomou o lugar da paixão e das emoções. Mesmo tendo havido um esboço de um conflito pós-eleitoral no qual um candidato ensaiou não reconhecer a vitória do seu adversário, alegando fraude monumental e reclamava a nomeação de governadores provinciais naqueles círculos em que saira vitorioso, essa agitação de forum político não contagiou de forma significativa o sector de comunicação social e tudo foi abordado com a serenidade necessária. Por outro lado, a passagem de testemunho de Chissano para as mãos de Guebuza foi interpretada sem paixões, mantendo-se nas margens previsíveis de que em democracia as mudanças não criam nem vazios nem sentimentos de orfandade.
“MEDIA” DEVE ACTUAR EM LIBERDADE
A primeira lição que retiro desta evolução do papel do jornalismo moçambicano é a de que os seus profissionais estão a aprender rapidamente que devem deixar de ser armadilhados pelos políticos, mantendo-se distantes das suas paixões. Quer isto dizer que o jornalista deve saber focalizar a realidade dos factos em períodos eleitorais como sendo uma realidade prenhe de paixões que não devem perturbar o seu olhar. Só o facto de se ter a consciência deste pressuposto garante que o jornalista actue em liberdade como sujeito que busca o seu próprio ponto de vista e não actua como vítima da armadilha que se lhe coloca, não estando ele devidamente avisado.
Mas ao mesmo tempo verificamos que o período em apreço permitiu também que o jornalista fosse beneficiando de um processo de amadurecimento, através da consolidação dos espaços das liberdades, bem como no domínio do saber. No exercício das suas funções passamos a ter profissionais com maior tarimba académica, munidos de conhecimentos metodológicos para o exercício do seu mister e cada vez menos profisssionais que se socorrem apenas da habilidade, apoiados no empirismo e na esperteza individual.
A segunda lição que retiro é a de que o exercício da profissão de jornalista já se não faz à maneira antiga em que um bom profissional nasce e faz-se dentro do jornal, rádio ou televisão e a sua competência provém da revelação dos segredos da própria profissão, à boa maneira da formação dos feiticeiros. O domínio das matérias e o conhecimento científico adquirido quer nas escolas vocacionais quer nos espaços de debate permanente, torna o nosso profissional mais atento e com auto controlo na definição do seu ponto de vista sobre os factos. Na realidade, a formação académica tornou os profissionais mais profissionais.
O jornalista é um cidadão como qualquer um de nós, não é um bicho raro nem pertence a uma classe especial imbuída de poderes mágicos. Ao jornalista está distribuída uma tarefa própria do sector da sociedade em que se encontra inserido, tal como a um médico, a um advogado, a um mecânico, a um professor, a um engenheiro, a um polícia, isto é, como seres gregários, todos nós estamos inseridos na vasta máquina que permite desempenhar tarefas sector a sector de modo a produzir resultados para o benefício colectivo. É isso que faz do jornalista uma peça fundamental para a vida da sociedade, contudo, manda a verdade dizer que qualquer presunção de que se trata de uma área especial pode criar distorções na percepção de qual importância relativa tem este sector de actividade, face às restantes. As coprorações têm a tendência de ampliar desmesuradamente a importância relativa que tem para com a sociedade.
A terceira lição que retiro é a de que ao convencer-se a opinião pública de que a Comunicação Social é o quarto poder, abrimos nós próprios o espaço de inúmeros e equivocados problemas, que muitas vezes dificilmente encontramos solução. O mesmo sucederia se disséssemos que os médicos são o quinto poder, os professores universitários são o X+2 e por aí adiante. O poder tem a magia de atracção que o abismo tem. Por isso, todo o profissional da comunicação social que utilize a presunção de que ser jornalista é ter poder, fica confinado aos limites dessa mesma presunção, beneficiando mais o seu próprio ego do que aquilo que realmente deve ser o objectivo do exercício desta profissão, sobretudo em períodos eleitorais. Ninguém ignora a importância que a comunicação social tem, mas transformá-la em poder é torná-la refém de interesses que certamente não vão beneficiar os interesses da sociedade.
Por fim, o jornalista também é cidadão, não é um robot, por isso, sente paixões, emociona-se e adere. Não podemos exigir dele que mate dentro de si adesões íntimas nem amores partidários. O código deontológico das profissões em Moçambique não incompatibiliza o exercício das mesmas com a adesão ao pensamento deste ou daquele partido.
A quarta lição que tiro é a de que para um jornalismo sério, ao profissional não está vedada a manifestação das suas intenções e adesão política, mas o limite que tem é que isso deve efectivar-se apenas enquanto cidadão, não devendo misturar o terreno objectivo e neutro do jornalismo com o terreno subjectivo das paixões partidárias.
Em períodos eleitorais temos todas as possibilidades de interagir com a vasta comunicação social do nosso país, e facilmente verificamos que a mesma procura viver intensamente o teatro eleitoral. No entanto, a expectativa que se cria à volta da nossa comunicação social é a de que o seu compromisso com a verdade não seja ferido de morte por agendas pessoais de alguns que se encontram neste sector de uma forma menos séria. Os políticos sabem do poder de sedução que têm e que podem exercer sobre a comunicação social e sabem também da capacidade de penetração nos cidadãos das mensagens dos agentes da comunicação social, é por isso que se lhes atribui o epíteto de “o quarto poder”.
Temos, de uma forma geral, a percepção de que o leque que compõe o arco-íris partidário encontra também alguma correspondência nas opções de alguns órgãos da nossa sociedade. Porém, aos órgãos de comunicação do serviço público estaria virtualmente vedado que os seus profissionais pudessem manifestar as suas opções nas suas páginas, pelo menos assim o espera o cidadão contribuinte e a ética profissional. Tenho para mim que o conceito de imprensa independente deveria em primeiro lugar referir-se aos órgãos de serviço público, pois eles expressam o que se encontra estabelecido na Constituição sobre o direito à liberdade dos cidadãos. A imprensa privada reflectirá seguramente a linha de pensamento dos seus investidores e a sua independência dependerá sempre do pacto a ser firmado entre o dono e o profissional. Espero pois que a tão desejada independência dos meios de comunicação social cubra o leque que vai do público ao privado, sendo que a independência consubstancia o compromisso dos profissionais com a verdade.
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“A FEBRE DOS DEUSES” REEDITADA
A primeira edição desta obra foi publicada no âmbito da recepção do Prémio Revelação Rui de Noronha, atribuído ao autor pelo Fundo Nacional para o Desenvolvimento Cultural (FUNDAC), em 2001.
Andes Chivangue conta ainda com um livro de poemas intitulado “Alma Trancada nos Dentes”, obra que foi lançada em 2007 e lhe valeu uma menção honrosa no concurso José Craveirinha.
Recebeu ainda as consagrações FUNDAC (2002), Maria Odete de Jesus (ISPU, 2003).
Ainda pela Índico Editores, saíram os livros “A Bíblia dos Pretos”, pertencente ao jovem escritor Midó das Dores, e “As Andorinhas”, da conceituada escritora Paulina Chiziane.
LITERATURA - Paulina Chiziane apresenta andorinhas em Correntes d’Escritas
Cento e vinte escritores de 15 países, entre eles a moçambicana Paulina Chiziane, reúnem-se a partir de hoje na Póvoa de Varzim, Portugal, para falar de literatura, na 10ª edição das Correntes d'Escritas, encontro literário de expressão ibérica.
Juan José Millás (Espanha), Alvaro Uribe (México), Andrea Blanqué (Uruguai), Antonio Orlando Rodríguez (Cuba), Amílcar Bettega (Brasil), Bruno Serrano (Chile), Héctor Abad Faciolince (Colômbia) e António Mega Ferreira são alguns dos autores estreantes nas Correntes e que vêm apresentar novas obras.
Também a participar pela primeira vez, estarão Lêdo Ivo (Brasil), Américo Appiano (Chile), Victor Andresco (Espanha), Joaquim Arena (Cabo Verde), Jorge Arrimar (Angola), Laura Antillano (Venezuela) e os portugueses Alice Vieira, Eugénio Lisboa e Rui Cardoso Martins.
Na lista dos "repetentes" encontram-se os portugueses Eduardo Lourenço, Hélder Macedo, Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, José Luís Peixoto, Nuno Júdice, Maria do Rosário Pedreira e Teolinda Gersão (Portugal), Luís Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar (Brasil), Germano Almeida (Cabo Verde), António Sarabia (México) e Santiago Gamboa (Colômbia) são alguns dos escritores estrangeiros participantes em edições anteriores, bem como Ondjaki, Ana Paula Tavares e Manuel Rui (Angola), Carlos Quiroga e José Manuel Fajardo (Espanha), Karla Suarez (Cuba) e o português Onésimo Teotónio Almeida, que estão "acorrentados" há mais tempo, como costumam dizer.
Até sábado, estes e outros autores falarão sobre "O Desafio da Folha em Branco", "É Literatura Tudo o que Não é Evidente", "A Rua Faz o Livro" e "A Literatura é o Sentido Último das Coisas", entre outros temas.
Na sessão de abertura oficial, esta manhã, serão anunciados os vencedores dos Prémios Casino da Póvoa, Correntes d'Escritas/Papelaria Locus e Conto Infantil Ilustrado Correntes d'Escritas/Porto Editora, que lhes serão entregues no último dia, na sessão de encerramento.
À tarde está prevista uma conferência de abertura.
Lançadas em 2000 pela Câmara da Póvoa de Varzim e já com uma identidade própria - e este ano com uma imagem renovada pelo atelier Henrique Cayatte - as Correntes promovem visitas dos escritores a escolas básicas e secundárias da Póvoa de Varzim, a terra onde nasceu o célebre escritor Eça de Queirós.
Além do lançamento de 35 livros - três dos quais de fotografias tiradas nas nove edições passadas - haverá ainda a apresentação do oitavo número da revista Correntes d'Escritas, inteiramente dedicado ao 10.º aniversário do encontro, e uma Feira do Livro, até sábado.
DAR OPORTUNIDADE A UMA JOVEM EDITORA
Perguntámos á escritora se esta é uma viragem nas suas edições em Moçambique, ao que ela respondeu com um peremptório não: “não podemos falar em viragens, porque nada é eterno no que fazemos enquanto formos vivos. O que aconteceu é que um grupo de jovens procurou-me propondo-me que publicasse por eles um livro. Como tivesse este, conversámos e decidi-me pela publicação na jovem editora”.
A Índico Editores é composta por jovens que ainda estão a iniciar-se no mercado livreiro moçambicano. Para a nossa fonte pesou a opção por eles justamente o facto de serem novatos. “Concordo com os políticos quando falam do apoio e incentivos à juventude. A minha opção pela Índico é justamente isso, um incentivo e uma oportunidade que dou aos jovens, porque sinto que eles precisam dessa oportunidade”.
A escritora não diz se esta parceria com a jovem editora se estenderá para o futuro. Prefere enaltecer o trabalho que com ela está a desenvolver, porque – justifica – “não podemos falar do futuro quando o presente ainda não está acabado”.
Bibliotecas públicas recebem 700 mil livros
Esta medida surge no quadro dos esforços que o sector da Educação e Cultura vem efectuando com o intuito de fazer crescer o hábito de leitura e interesse pelo estudo por parte dos jovens.
O apetrechamento das bibliotecas públicas foi anunciado esta semana durante o III Seminário Nacional da DINAME, onde tomaram parte delegados regionais da instituição. O encontro efectuou o balanço da distribuição dos livros de distribuição gratuita no Sistema Nacional de Educação e para as bibliotecas. Este ano, a DINAME distribui 14 milhões de livros de distribuição gratuita, num processo descrito como positivo, visto terem sido melhorados alguns procedimentos em relação a 2006 e 2007.
Com o apetrechamento das bibliotecas pretende-se ainda permitir que crianças, jovens e adultos enriqueçam os seus conhecimentos e participem de forma activa na vida da sociedade, elevando de forma permanente a eficácia e a eficiência do ensino no país.
Dos livros em distribuição destaque vai para áreas como biologia, física, química, geografia, português, história, francês, matemática e inglês de classes que vão desde a 8ª a 12ª. Também constam de desenho (6ª), educação física, ciências naturais, educação visual, empreendedorismo, gramáticas e dicionários, entre outros.
Dentre os autores moçambicanos que figuram como autores de alguns dos livros, sobretudo os de leitura, constam nomes como Paulina Chiziane, Mia Couto e José Craveirinha. A distribuição é levada a cabo sob o lema “Vamos pôr o Moçambique do Futuro a Ler”.
Os distritos são descritos como prioritários neste processo, visto serem, quase sempre, os mais prejudicados quando se trata de disponibilizar material de leitura, sobretudo o relacionado com o ensino e aprendizagem.
Assane Sufiane, director-geral da DINAME, explicou que a empresa registou uma melhoria no seu desempenho na distribuição do livro escolar nos últimos três anos, tendo sido introduzido o programa de distribuição de materiais às bibliotecas do Ensino Secundário Geral primeiro, e este ano, também, no Ensino Primário.
A DINAME tem a maior rede de distribuição de material escolar, com armazéns nas três regiões do país, alargando-se gradualmente aos distritos.
“A FILHA DO POLÍGAMO”: O debate que a sociedade precisa
O MUTUMBELA Gogo pôs em cartaz no fim de semana a peça “A Filha do Polígamo”, que marca a estreia na encenação de uma dos seus mais cintilantes rostos, a actriz Graça Silva. É um começo feliz da nova encenadora que desponta do Teatro Avenida, que no ano passado hospedou a estreia – também auspiciosa, na arte de encenar – da sua colega Lucrécia Paco, que adaptou para o palco o romance “Niketche” de Paulina Chiziane.
A poligamia é uma prática abertamente repudiada na nossa sociedade, principalmente pelo que ela impõe às mulheres e crianças, às famílias cujo chefe centra – com ou sem dificuldades, materiais ou não – várias mulheres ao seu redor. É esta a visão de uma mulher que usa a sua arte para transmitir uma mensagem, a de que esta prática periga o normal andamento de uma família.
Através de actores experimentados – com quem Graça Silva partilha o palco há vários anos (Adelino Branquinho e Jorge Vaz) e uma novata (Nilza Laíce, do grupo amador Luarte), a história de “A Filha do Polígamo” pode tornar-se na principal atracção deste ano na cidade de Maputo no que ao teatro diz respeito. Porque foi uma peça bem dirigida e está a ser bem representada, principalmente por Adelino Branquinho, que faz o papel de principal polígamo da comunidade representada. Branquinho confirmou, mais uma vez, as suas exímias qualidades, evidenciando ser capaz de representar seja qual for o tema, seja qual for o papel.
Há ainda Nilza Laíce, que faz o outro papel principal, que tem uma prestação que só vem mostrar que o teatro moçambicano tem valores, que podem ser encontrados também bem longe dos grupos grandes (Mutumbela Gogo e Gungu), em formações como o Luarte de que ela faz parte, Mahamba, Mugachi e tantos outros que apenas devido a dificuldades materiais e financeiras não aparecem com regularidade.
Esta peça é um original de um escritor da ilha francesa de Mayotte (no oceano Índico), Nasur Attoumane. Graça Silva participou nela como actriz no ano passado, durante uma digressão internacional do seu Mutumbela Gogo. A motivação para a escolher na sua estreia como encenadora foi simples: “é um tema que se enquadra em nós porque a poligamia ocorre em todas as regiões do nosso país; é o meu contributo para o debate e para que se combata esta prática, porque ela é má”.
Graça Silva está no teatro desde os primórdios do seu grupo, que nasceu em 1986. Aceitou fazer do palco a sua primeira casa, representando muitos papéis em muitas peças ao longo de duas décadas. A sua entrada para encenadora acontece praticamente depois de percorrer várias estações como actriz, sentindo-se agora suficientemente madura para actuar no outro lado de uma peça teatral. E deu o salto, qualitativo, mostrando ser criativa e atenta aos problemas que assolam a sociedade em que ela vive. É por isso que nos convida ao debate.
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