Artigos sobre Paulina Chiziane (Jornal de Noticias) 5

Nao há dinheiro para livros
A feira que encerrou há dias na Minerva Central trouxe a público o velho debate sobre a falta de leitura na nossa sociedade. E desta vez ficou provado que o povo gosta de livros, quer comprar e lê-los, mas o facto de andar com o “bolso furado” mina este desejo. Mesmo com a grande variedade de propostas literárias que a Minerva apresentou, ocupando o centro das atenções de todos os leitores, Edith de Carvalho considera que a prioridade do povo é o estômago. “Neste momento não há negócio. As pessoas não têm dinheiro. O dinheiro que chega às mãos é destinado para satisfazer as necessidades básicas da família. Mesmo tendo vontade de comprar um bom livro, as pessoas infelizmente não podem satisfazer esse desejo”, lamenta.Mesmo os livros a serem vendidos a preços relativamente baixos, com descontos que variavam de 15 a 20 por cento, as vendas estiveram aquém das expectativas da empresa. Esta feita, paradoxalmente, foi nalguns momentos, bastante concorrida, mas tal movimento não se traduziu em dinheiro. As vendas ficaram sempre para atrás.A feira teve a particularidade de enaltecer em grande medida a literatura e ciência moçambicana com nomes de José Craverinha, Calane da Silva, Juvenal Bucuane, Armando Artur, Mia Couto, Elisio Macamo, Paulina Chiziane, Naguib, Chichoro, João Paulo Borges Coelho, entre outros.As editoras marcaram a sua presença com obras valiosas, são elas a “Porto Editora” e “Bertrand”, “S.A da Costa” e “Verbo Notícias”.O público foi brindado com um leque variado de propostas de qualidade inquestionável. Uma feira completa, diga-se. Estudantes, professores e amantes da literatura no geral, não hesitaram em fazer-se ali para saber das últimas tendências da escrita nacional e internacional.
Minerva encerra feira projectando centenário
CAI hoje, pano da Feira da Minerva Central alusiva às comemorações dos 99 anos de fundação desta firma do ramo do livro. A feira ocupou o centro das atenções de leitores, que procuravam também um espaço de encontro com o conhecimento. Ao longo dos quase quarenta dias em que a feira funcionou, os livros disponíveis foram vendidos a preços relativamente baixos, com descontos que variavam de 15 a 20 porcento.
Não obstante, a feira ter sido concorrida, de alguma forma, paradoxalmente, tal movimento não traduz as expectativas de venda que se esperava. Ou seja, as vendas ficaram aquém das reais expectativas da firma, segundo referiu Edith Carvalho, gerente da Minerva Central, que falando ao “Notícias” associa o facto ao fraco ambiente de negócio que a praça atravessa.
“Neste momento, não há negócio. As pessoas não têm dinheiro. O dinheiro que chega às mãos é destinado para satisfazer as necessidades básicas da família. Mesmo tendo vontade de comprar um bom livro, as pessoas infelizmente não podem satisfazer esse desejo”, lamentou.
Nesta mostra, estão patentes milhares de títulos, obras para todos os gostos, com propostas de maior destaque para a literatura moçambicana e internacional. Esta feira promove em larga medida, por assim dizer, a literatura moçambicana, desde José Craveirinha, Calane da Silva, Juvenal Bucuane, Armando Artur, Mia Couto, Elísio Macamo, Paulina Chiziane, Naguib, Chichoro, João Paulo Borges Coelho entre outros.
Figuram ainda prestigiadas editoras mundiais tal é o caso da “Porto Editora” e “Bertrand”( só para citar alguns) que mostram um leque variados de obras, de grande qualidade. É uma feira completa, diga-se.
São vários os autores patentes nesta realização. Alguns livros podem ser consideradas como raridades.
Como já era de esperar, o maior número de visitantes foi de  estudantes e professores que mesmo sem poderem comprar, lá se dirigiam para ver aquilo que são as grandes novidades da literatura mundial.
Entretanto, a Minerva Central que caminha a passos largos para assinalar os seus 100 anos de existência, já no próximo ano, está a perspectivar este acontecimento da família Carvalho, que gere o negócio desde a sua fundação a 14 de Abril de 1908. É um século de persistência – no ramo livreiro, papelaria e tipografia – na valorização dos valores e desígnios do seu fundador, um homem assumidamente apaixonado pelo livro.
Escritores têm potencial para embaixadores culturais de Moçambique
- Acha que a nossa literatura é suficientemente conhecida no estrangeiro? - O que eu penso disse é que realmente nós temos uma grande potencialidade. Os novos escritores, a meu ver, escrevem coisas mais ou menos descartáveis, mas há ainda uma potencialidade nos escritrores de serem, em certa medida, embaixadores de Moçambique no campo cultural, porque na verdade isto pode acontecer. Se o próprio país tivesse mais auto-estima e nos considerássemos realmente bons e fizéssemos mais em prol da literatura moçambicana, caminharíamos muito mais alto. Deveria haver mais apoios do mecenato, do próprio governo. É preciso incentivar, apoiar os escritores. Eu lembro-me quando foi dos cem melhores livros africanos, Moçambioque vinha logo imediatamente após a Nigéria que é um colosso, com cinco escritores e isso quer dizer alguma coisa.
- De que Moçambique tem bons escritores é indesmentível, mas o que se diz é que temos uma incapacidade de exportâ-los. Concorda? - Concordo plenamente. No meu caso tenho tido a sorte de os estrangeiros se lembrarem-se de mim, porque de facto tenho sido convidada para lugares muito estranhos. Estive na Finlândia 20 dias a convite da Associação dos Escritores Finlandeses, que é onde participei num congresso muito famoso que teve lugar há dois anos, onde estavam 200 escritores de todo o mundo e eu era a única de língua portuguesa. - E também já esteve numa das maiores Biblioteca do mundo nos Estados Unidos da América! - Essa “aventura” foi que as universidades americanas, acho que Massachussets e Nova Yorque, têm um departamento de Português-Espanhol e fizeram um estudo sobre Moçambique e esse estudo foi editado em livro. Quando foi do lançamento desse livro sobre Moçambique pediram aos alunos da universidade para escolherem um escritor de Moçambique para falar da sua obra e dos três escritores que eram Paulina Chiziane, Mia Couto e Lilia Momplé. Os alunos escolheram a mim e é assim que eu fui lá parar. Na maior biblioteca do mundo, que é a Biblioteca do Congresso fui apresentada pelo nosso embaixador lá, que é o Armando Panguene. Ressell Hamilton falou sobre a minha obra e eu própria falei sobre a literatura, sobre a mulher em Moçambique. Foi uma coisa muito interessante. O patrono desse colóquio foi o ex-presidente do Brasil Henrique Cardoso. Abriu o colóquio e realmente foi assim uma ocasião de nós sentirmos que a literatura moçambicana, mais uma vez, é importante lá fora. Porque a tese que é este livro devia ser lido pelos políticos em Moçambique. Os políticos deviam ler os demais escritores moçambicanos.
Em Mayotte : Artistas nacionais assinalam abolição da escravatura
VÁRIOS artistas moçambicanos participam desde ontem nas Ilhas Mayotte (nas Comores) nas actividades comemorativas de mais um aniversário da abolição da escravatura no continente africano. Participando a convite dos serviços culturais daquele país situado no Oceano Índico, Moçamique é representado por músicos, dançarinos, escritores, artistas plásticos, escultores, actores de teatro, fotógrafos e representantes do Governo moçambicano, que irão apresentar, até o próximo dia 30 deste mês, produções nacionais no vasto programa cultural preparado por aquele país para celebrar a efeméride. Entre os que compõem a delegação moçambicana estão a escritora Paulina Chiziane, autora do livro "Niketche", Manuela Soeiro, directora do Teatro Avenida e a actriz do mesmo grupo Lucrécia Paco, a Vice-Ministra da Educação e Cultura, Antónia Dias, e o agrupamento musical, Timbila Muzimba. O convite a Moçambique é justificado pela comissão organizadora das celebrações como forma de descobrir Moçambique no seu passado, através da cultura das suas populações, entre as quais macuas e makondes, "que povoaram Mayotte e as Ilhas do Oceano Índico" nos séculos passados. O intercâmbio tem também em vista "encorajar a troca de parcerias entre os artistas moçambicanos e de Mayotte", segundo um comunicado chegado à nossa Redacção. No encontro estão presentes vários artistas e conferecistas vindos das Ilhas do Oceano Índico e da Europa que contribuem para fazer deste evento um momento de festa, um momento de recordação da história moçambicana e de outros povos, de forma a diminuir o esquecimento colectivo. Com a comemoração da abolição da escravatura, segundo a nossa fonte, pretende-se trazer ao Homem os elementos necessários para a compreensão da sua história, aproximar, explicar e aceitar que ele, principalmente o moçambicano, povoou as ilhas situadas no Oceano Índico, antes e depois do comércio de escravos.
II Feira do Livro pela cultura e pelo saber
A segunda edição da Feira Internacional do Livro de Maputo, evento estreado no ano passado com o intuito de criar um espaço e um movimento em que a cultura e o saber convirjam através deste imprescindível bem, terá lugar entre 29 deste mês e 1 de Maio no Parque dos Continuadores.
Para além da apresentação e venda de livros a preços abaixo dos de mercado, o evento promoverá nos seus três dias de duração, saraus de poesia, sessões para contadores de estórias (e de histórias), palestras, sessões de autógrafos, monólogos e outras actividades ligadas à divulgação da literatura e do livro em geral.
A iniciativa   que o ano passado fez convergir no Jardim do Professor, vários amantes e agentes do livro e da cultura, é do Grupo Culturando, que congrega responsáveis de centros culturais como o Franco-Moçambicano, Brasil-Moçambique, Instituto Cultural Moçambique-Alemanha (ICMA) e Instituto Camões, para além de missões culturais de várias representações diplomáticas estrangeiras na capital do país.
Contam com a parceria do Instituto Nacional do Livro e do Disco (INLD), público, e a produtora Naturalmente Marketing Social, entidade privada baseada na capital do país.
A ideia de promover a feira está também associada às celebrações do 23 de Abril, Dia Internacional do Livro e do Direito do Autor, que tem passado discretamente no nosso país. Este ano será diferente por a efeméride coincidir com o período da Páscoa.
A edição deste ano da Feira do Livro de Maputo terá uma forte participação do Conselho Municipal da capital do país, do INLD, editoras, livreiros e outras instituições que promovam e o livro, um dos mais apetecíveis produtos culturais que a humanidade criou.
A edição de estreia do evento abriu precisamente na data mundialmente dedicada ao livro, 23 de Abril, durando igualmente três dias. Homenageou o poeta, escritor e jornalista Albino Magaia, que faleceu em 2010 e teve a participação de 25 feirantes, entre editoras, livreiros e produtores independentes. Foram na ocasião lançado sete livros e promovidas conversas e sessões de autógrafos com autores como Paulina Chiziane, João Paulo Borges Coelho, Mia Couto, Juvenal Bucuane, Calane da Silva, Januário Mutaquia, Sérgio Simital, Alex Dau, Pita Alfândega e Carlos dos Santos, saraus de poesia, monólogos e música ao vivo de artistas como Stewart Sukuma, a banda Likute e a orquestra Timbila Muzimba.
Mapiko é um dos "pratos" que Cabo Delgado oferece no Tambo 2010 (Arquivo)
Pemba: Arranca hoje festival "Tambo Tambulani 2010"
ARRANCA hoje na cidade de Pemba, em Cabo Delgado, o Festival Tambo 2010, pela quinta vez consecutiva organizado pela Associação Cultural, Tambu Tambulani Tambu, sediada no bairro de Nanhimbe, que tem o condão de trazer àquela região,  diversas sensibilidades artistico-culturais internacionais.
Nesta segunda-feira, está prevista a entrada em cena de dois escultores zimbabweanos, bem como uma pintora e escultora das Ilhas Seychelles, para além do arranque do “Workshop” de artes plásticas com a participação do multiartista queniano, Tony Mboyo, o nigeriano Kola Akintola, a brasileira Ângela, Nangashinu N´taluma, que de Portugal traz na sua “bagagem”a arte Maconde,  Mieke Oldenburg, escultora que vem de Maputo e quatro artistas pembenses, também calejados na escultura.
O programa do evento a que o “Noticias” teve acesso, indica a  presença de 20 turistas nigerianos interessados no certame cultural, para além de outros dois cidadãos daquele país, e que são membros  da Pacific Arte Galeny.
Para amanhã prevê-se a continuação do “Workshop” das artes plásticas, para além do painel de literatura que será moderado pela escritora moçambicana Paulina Chiziane, com a participação dos poetas zimbabweanos, Mbidzo Chirasha e Batsirai Chigama, do nigeriano Aderemi Abgbite, da poetisa brasileira Ângela, entre outros.
A dança também figura entre as modalidades culturais do Tambo/2010, destacando-se a participação de artistas oriundos da capital do país e, do Quénia e do Uganda.
Participarão igualmente  grupos de  Mapiko de Mueda,  de canto e dança do distrito de Chiúre, para além  dos “donos da casa”,  o “Tambo Tambulani Tambo”, ao que se  seguirá a visita ao histórico bairro de Paquitequete, onde os participantes  assistirão à actuação do grupo de dança, Damba.
Os artistas vão também visitar a Escola de Música Edunia, que tem pela frente o conhecido músico Imamo Haje, o Centro Cultural Banguia “Mapiko Moderno”, a Cooperativa de Escultores “Bela Baía”, e de artesanato “Karibu Wimbi” e “Uiuipi”,  na cidade de Pemba.
Estão também agendados “ workshops”, de música para os quais está confirmada presença do professor de música Orlando, vindo de Maputo, de nomes como M´bila Player, de Harare(Zimbabwe), Umkhathi Theatre Works, de Bulawayo, entre outros músicos nacionais e estrangeiros.
O teatro que é um dos “pratos fortes” da associação cultural organizadora do festival , vai também estar em debate tendo como moderadora a directora do grupo teatral Gungu, da capital do país,  Manuela Soeiro, tendo como participantes,  Given Jikwana, da Africa do Sul, Elizabeth Muchemwa, de Harare, Zimbabwe, entre outros, incluindo uma representação do Teatro Embassy, da Holanda.
A culinária vai também completar o “menú”cultural nos oito dias do Festival Tambo 2010.

  • Pedro Nacuo
Semana moçambicana abre hoje na Alemanha
O Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Balói, encontra-se desde ontem na capital alemã, Berlim, para tomar parte nas actividades da “Semana Moçambique-Alemanha” no âmbito da comemoração do trigésimo quarto aniversário da Independência de Moçambique.
Para além de celebrar as relações de amizade e cooperação entre os dois países, a “Semana Moçambique-Alemanha” pretende apresentar àquele país, a expressão da cultura moçambicana, no que toca à dança, teatro, música, exposição de pinturas e esculturas, leitura de obras, publicação de imagens sobre o nosso país entre outras actividades.
Fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação deu a conhecer ao nosso jornal  que a abertura oficial do evento será feita hoje contando com a presença do Ministro da Educação e Cultura, Aires Aly, no encerramento.
Para abrilhantar o evento partiram já para a Alemanha a Companhia Nacional de Canto e Dança, os músicos Wazimbo, Stewart Sukuma, Mingas, Sizaquiel, Neyma, os artistas plásticos Julieta Massimbe e Manqueu Mahumana. A mostra inclui a participação da artesã Otília Aquino e do Grupo teatral Mutumbela Gogo.
Fazem parte das comemorações  palestras sobre a literatura com a participação de Nelson Saúte e Paulina Chiziane.
O evento é organizado pela Embaixada da República de Moçambique naquele país em coordenação com o Fórum Moçambique-Alemanha para a integração social e cooperação económica, tem o beneplácito  do Ministério para a Cooperação Económica e Desenvolvimento da República Federal da Alemanha.  
A mulher como "alicerce" da sociedade

SR. DIRECTOR!
Quase sinto vergonha caríssimas mulheres, por vos enviar este artigo com atraso, quando o ideal seria publicar no dia 7 de Abril. Mas com razão, pois não me encontrava liberto de esforços e outros estudos académicos. Já tinha as ideias mas restava-me colocar no papel e o desejo da eloquência me afligia.
Contudo, como consagro diariamente uma parte do meu tempo para teclar qualquer coisa, fiz o esforço de mandar-vos o presente artigo. Considero estas coisas como parte dos meus afazeres, pois têm necessariamente de ser feitas.
Perguntareis quando escrevo então? Escrevo o pouco que me roubo ao sono e à comida, e nesses intervalos acabei por concluira mulher como pilar da sociedade, e envio-vo-los, caríssimas mulheres, para que leiais, e se algo estiver errado mo desculpeis.
Desde o passado longínquo a mulher sempre teve um papel de destaque no seio de qualquer que seja a sociedade no mundo, servindo de "pilar da Humanidade", visto que ela é a fonte geradora da sociedade, comunidade, e da família em particular. Ela é a espinha dorsal de toda vida social, fonte de calor para o homem, afecto para os seus filhos, desde o período da gestação e durante toda vida humana. Ela é sempre prudente, firme e de cabeça erguida para melhor enfrentar os litígios que a afectam sua prole.
Mulher moçambicana! A mulher moçambicana foi sempre exemplar, lutando pela família e pela sociedade em geral. A título de ilustração, em 1962, quando eclodiu a guerra contra o regime colonial, a mulher não ficou "indiferente", tomou a iniciativa e liberdade de participar na guerra lado a lado com o homem, de modo a livrar a nossa nação do jugo colonialismo. As mulheres "engrossavam as fileiras" do Exército participando como bazuqueiras, comandantes, tendo as mesmas tarefas, tratamento e treinos com os homens.
Em 1967 funda-se o Destacamento Feminino, com vista a promover a sua emancipação, sua liberdade, e manter o seu comprometimento com a libertação do país. Destacava-se como uma das principais militantes, a Josina Machel, que descreveu a acção das mulheres com as seguintes palavras: "Muitas mulheres preferem o combate mais activo ao lado dos homens, em emboscadas e em operações de alocação de minas, onde provaram ser tão capazes e corajosas como qualquer dos seus camaradas".
A afirmação acima citada mostra-nos o quão a Josina Machel e outras mulheres estavam preocupadas em libertar a nação moçambicana do opressor.
Já em 1973 a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) empenhou-se em encorajar mulheres a participar plenamente na sociedade em pé de igualdade com os homens, e houve a necessidade de grande mobilização e organização de todas forças para o combate. Neste âmbito, o Comité Central da FRELIMO funda OMM (Organização da Mulher Moçambicana), com o intuito de reconhecer que as mulheres estavam a ter um papel cada vez maior na guerra.
Samora Machel na conferência da OMM, em 1973, condensava os objectivos sociais da revolução da FRELIMO: "A emancipação das mulheres não é um acto de caridade, o resultado de uma actividade humanitária. A libertação das mulheres é uma necessidade fundamental para a revolução".
Em 1976, a OMM e a FRELIMO discutiram os direitos da família. Machel fez uma serie de discursos sobre o tema da revolução das mulheres. A chave da emancipação seria a educação, a mobilização política e entrada para o sector moderno da economia. Através da OMM, as mulheres foram incentivadas a levar os seus filhos à vacinação e frequentar aulas de alfabetização. A OMM, acabou com a prostituição institucionalizada das cidades, e a poligamia, que era considerada uma forma de os homens recrutarem o trabalho das mulheres.
Mulher moçambicana hoje! A mulher ganhou espaço no seio da sociedade, conquistando as esferas social, económica, politica, e cultural; e promovendo o bem-estar.
Ela exerce um papel notável no combate à pobreza absoluta, bem como no combate a doenças que dizimam milhares de pessoas no país, tais como: o HIV/SIDA, malária, tuberculose entre outras.
No que diz respeito a desigualdades entre os sexos no mercado de emprego, nos dias de hoje verifica-se que as mulheres são privilegiadas, pois a taxa de emprego feminino tende subir e destaca-se em posições de chefia e em cargos políticos.
Fontes de inspiração hoje! Hoje as mulheres moçambicanas podem inspirar em figuras como, Maria de Lurdes Guebuza, que tem mostrado as comunidades os caminhos rumo ao combate à pobreza absoluta. Destaca-se ainda, a Primeira Ministra, Luísa Diogo, mulher líder por excelência, que através do seu discurso de liderança tem exercido o seu papel em várias esferas sociais.
A Graça Machel é uma figura emblemática, mulher empreendedora e acima de tudo carismática, que através da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade tem reforçado o Estado, contribuindo para minimizar o impacto social da pobreza.
Destaca-se ainda, o papel humanitário da Alice Mabota, a "dama de ferro", que através da Liga dos Direitos Humanos luta contra a violação dos direitos humanos. Não me esqueço da mamã Lina Magaia, Paulina Chiziane, Rosa Langa, que utilizam as suas lentes literárias em prol da valorização da cultura moçambicana.
As outras fontes de inspiração podem ser a Janet Mondlane e sua filha Nyelete Mondlane, mulheres trabalhadoras que se empenham em prosseguir algumas obras de Eduardo Mondlane, e pela revalorização e preservação da aldeia Nwadjahane-Mandlakaze.
A Lurdes Mutola, a mulher e a meta de ouro, é um exemplo a seguir, pois até hoje é um dos "símbolos" da nossa bandeira pelo mundo fora.
No Grupo Soico destaca­se, a Felizarda Zunguza (voz de machine), Bourdina Muala, Anabela Adrianópolos, Fátima Uaide e Graciete Carrilho.
A Glória Muianga e a Hermínia Machel são sem dúvida grandes figuras, mulheres das máquinas, são exemplos a seguir.
As grandes mulheres da música moçambicana, Mingas, Guê-Guê, Rosália Mboa, Elsa Mangue, Albertina Pascoal, Zaida Lhongo apesar de não pertencer o mundo os vivos.
Na nova geração destaca-se a Liza James, Liloca, Marlene, Ivânia, esta última que chamo de mulher exuberante e com performance.
Não me esqueço de congratular as mulheres académicas, docentes da Universidade Eduardo Mondlane, que tem contribuído arduamente no ensino e noutros projectos de desenvolvimento. Da vasta lista destaco, humildemente, as professoras: Ximena Andrade, Inês Raimundo, Ana Loforte, Esmeralda Mariamo. Pela postura académica e perfil profissional elas podem servir de fontes de inspiração para as jovens estudantes de hoje.
No dia 7 de Abril as "elites políticas" foram depositar flores no monumento dos heróis moçambicanos, em homenagem à Josina Machel e a todas mulheres moçambicanas. A cerimónia contou com a presença de sua Excia Presidente da República, Armando Guebuza, acompanhado por David Simango, governadora da cidade de Maputo, ministra da Mulher e Acção Social, entre outros.
Foi uma cerimónia impressionante, visto que mulheres de várias organizações estiveram lá presentes, a cantar e gritarem emocionalmente. Foi um momento impressionante ver o Presidente da República, dando força e mensagem de esperança as mulheres, dançando e cumprimentando todas mulheres ali presentes. Obrigado, por lutar pelo empowerment das mulheres. No meu dizer, elas são a espinha dorsal de toda vida social.
A todos homens vai um recado, STOP À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, pois não há justificação para violentar as mulheres, no dizer da Alice Mabota.
Por fim, dedico a todas mulheres moçambicanas, feliz semana da mulher, semana santa. Doravante tenham uma vida repleta de desígnios.
Faltam-me adjectivos para qualificar a mulher moçambicana!                                           

  • António Muchanga
Há uma teatralidade forte (em Paulina Chiziane e Mia Couto)
 - Depois de ter trabalhado com uma obra de Paulina Chiziane pegou agora no Mia Couto. Mera coincidência ou escolheu de propósito trabalhar com aqueles que são dois dos melhores escritores de Moçambique na actualidade?
 - Primeiro por isso, porque para mim é um privilégio poder trabalhar com esses dois grandes autores, mas também porque são duas obras que logo à partida despertaram esse interesse. Nem todo o texto de um autor se pode transformar em cena. Mas vi tanto em “Niketche” de Paulina Chiziane como em “O Último Voo do Flamingo” de Mia Couto uma teatralidade forte. Estes dois romances têm muitos elementos cénicos e muita teatralidade a partir da qual se pode adaptar uma peça e leva-la ao palco sobretudo pela linguagem oral que os seus autores utilizam, que é bastante. É mais por isso.  - Já vai na segunda peça como encenadora, em que trabalha com actores do seu grupo, o seu grupo-escola que é o Mutumbela. É confortável estar a trabalhar com colegas com quem esteve durante vários anos a partilhar palco e estando, como se diria no cinema, do lado de cá das câmaras?  - É confortável, de certo modo, porque já existe uma certa cumplicidade entre nós. Já nos conhecemos e assim o diálogo ficou muito e muito mais fácil. É verdade que logo à partida pareceria difícil, mas como a gente se conhece bem é muito mais fácil contornar eventuais dificuldades que possam surgir. E depois, a experiência que eles têm permite que o trabalho saia com mais perfeição, porque eles ajudam. Há entre nós um ponto de referência comum, que nos ajuda a chegar onde queremos com o nosso trabalho, que para já é, em parte, colectivo, porque o empenho de cada um acaba contribuindo para o sucesso de uma obra.  - Desta vez não vai trabalhar apenas com actores do Teatro Avenida (dos grupos Mutumbela Gogo e M’bêu). Vai, também, incorporar dois jovens actores do Luarte, um grupo amador da nossa capital. Por causa da história, que precisava de mais personagens, ou por algum outro factor. O que é que viu exactamente neles? - Primeiro, o Mutumbela está numa fase também de se abrir cada vez mais e integrar novos membros. Precisamos de actores. Depois, eu gostei muito de ver estes dois actores a desempenharem muito bem os seus papéis na peça “Muno Munene” (que o Teatro Avenida produziu em 2006). Então, eu vi que eram actores com muito talento e que poderiam ter um espaço entre nós. Para além disso, eles dedicam-se muito. É verdade que há uma grande diferença entre os profissionais com quem passam a trabalhar, mas também eu precisava de mais e novos actores. Ao invés de fazer um casting, preferi privilegiar aqueles que têm estado a fazer teatro é dá-los assim uma oportunidade para se mostrarem num nível mais alto. E estes têm um talento e podem evoluir ainda mais. Podem, agora, contracenar com actores como Adelino Branquino, Graça Silva e companhia. Há uma diferença, claro, mas eles conseguem enquadrar-se. Mas no “Niketche” também fiz isso, porque integrei uma actriz, a Lara (Faria), que nunca tinha feito teatro e ganhou a sua oportunidade.
  • GIL FILIPE
Laize
Duas perguntas para Laize eleita para uma antologia da AEMO
LAIZE é considerada uma verdadeira pedra preciosa. Por lapidar. Recentemente esteve nos Estados Unidos numas olimpiadas que tinham em vista apoiar a criança. Representou Moçambique na área literária nesse evento. Não porque eu fosse a melhor, diz-nos Laize, mas tive um pouco mais de sorte em relação aos outros. Foi escolhida para constar numa antologia a ser lançada brevemente pela AEMO (Associação dos Escritores Moçambcanos). E por causa disso mesmo procuramos por ela, para apenas duas perguntas.
Como é que te sentes como uma das elegidas para fazer parte deste livro a ser publicado pela AEMO?Para mim é um privilégio constar numa antologia da AEMO. Significa que eles valorizam o meu trabalho e é um incentivo para eu continuar a trabalhar na escrita.Como é que apareces neste mundo literário?Eu sempre gostei de fazer qualquer coisa na escola e então apareci num concurso em 2001. Ganhei o Primeiro Prémio no Instituto Camões. Também porque falar nunca foi o meu forte. Sinto-me bem escrevendo do que falando e isso pode ter contribuido para eu entrar no mundo da escrita.Quais são as tuas influências?Eu sou um conjunto de várias influências, não só literárias, mas também aquilo que é o meu dia-a-dia, aquilo que é a minha escola. Em relação as influências literárias gosto muito de Paulo Coelho, Mia Couto, Paulina Chiziane, Aurélio Furdela, Armando Artur e tantos outros e destes todos saí eu.Em que classe estás?Fiz a décima segunda classe este ano e pretendo fazer farmácia.Teremos então uma farmacêutica a sustentar sustentar uma poeta!(Risos), mas eu queria seguir medicina.Porquê que não o faz?Dizem que sou muito emotiva e isso não se compadece com medicina.Estiveste recentemente nos Estados Unidos. Conte-nos lá um pouco o que foste lá fazer.Eu fui representar Moçambique na área da Literatura nos Estados Unidos, mas não era propriamente uma reunião literária. O tema principal eram os jogos olímpicos, jogos e assistência às crianças, mas também havia algumas actividades como a literatura, o canto e a dança e eu fui escolhida, não porque eu fosse a melhor, mas tive mais sorte que as outras.Tens escrito muito?Tenho sim, mas a literatura não é como a Matemática em que nós temos que aprender as bases, as fórmulas e daí nós estamos aptos para resolver qualquer problema, isso independentemente do estado de espírito da pessoa, o nível de inspiração para superar as adversidades sócioemocionais.O que significa para ti fazer poesia?É uma forma de me pronunciar na sociedade. Eu não gosto de falar e acho que escrever é uma forma de dizer a sociedade sobre aquilo que penso, mas também é uma forma de me libertar. Eu gosto de ouvir, não porque eu não queira falar, mas gosto de ouvir e penso. E quando não respondo chego a pensar que as pessoas ouviram a minha resposta.
  • ALEXANDRE CHAÚQUE
Uma feira cultural fria
MIL era o número de expositores que os organizadores da Primeira Feira Cultural "Made in Mozambique" estimavam para ontem na Praça da Independência por ocasião dos 119 anos da cidade de Maputo. Contudo, este número ficou aquém das expectaivas, só 300 expositores (inscritos) participaram neste evento que tinha por objectivos promover o produto artístico nacional, criando no futuro uma oportunidade para expor no estrangeiro, segundo anunciaram os organizadores, nomeadamente Ministério da Indústria e Comércio, em parceria com o munícipio da cidade de Maputo e o Ministério da Cultura ( Artes Visuais). Artesãos, estilistas, "designers", pintores, escultores, cozinheiros e outros criadores de arte presentes deram azo à sua imaginação, propondo uma panóplia de expressões artísticas aos escassos transeuntes que por ali passavam. Maputo ontem eram uma cidade acanhada e recolhida, com os municípes a aproveitarem o feriado para descansar com a família tendo todas as atenções voltadas para o IX Congresso do Partido Frelimo em Quelimane. Discos e livros de autores moçambicanos, roupas africanas, sandálias, quadros e outras bijuterias foram ali exibidos naquele espaço. Foi uma feira alargada em que se exibiram cestos de palha e sisal, peças de papel reciclado, batik, colares, brincos, pulseiras, peças de missangas, jóias de grande qualidade técnica e estética. A música e literatura moçambicana estiveram em peso neste lugar de encontro de homens de turismo. A "stand" "Letra & Som" apresentou uma larga proposta de CDs/DVDs de cantores moçambicanos de velha guarda e nova geração, tais como Xidiminguana, Dilon Djindji, Eyuphuro, Alexandre Langa, Fany Pfumo, Ghorwane, Gonzana, Carlos e Zaida Lhongo. Lado a lado à música, algumas das nossas referências literárias "editadas pela "Ndjira" e "AEMO" - apontando-se entre eles Mia Couto, José Craveirinha, Elísio Macamo e Paulina Chiziane. Obras de Juvenal Bucuane, Aldino Muianga, Moisés Mabunda, João Paulo Borges Coelho foram igualmente aqui levadas e apreciadas pelo público. Paralelamente a esta exposição de artesanato e não só, decorreu um festival de danças tradicionais: o Primeiro Festival de Batuque. Quanto à feira Cultural, diga-se, não correspondeu com as expectativas quer dos próprios expositores bem como de parte dos apreciadores de arte tal como disseram à nossa Reportagem. Lamentaram a falta daquele "calor" e entusiasmo próprios de uma feira que se pretendia de alto nível. Esperavam um pouco mais, dado o número anunciado pelos organizadores.
Em cartaz está “A Casa da Boneca”, de Ibsen. Depois, “Niketche”
MUTUMBELA GOGO: aniversário em Novembro, mas por agora Ibsen e... "Niketche"
Em Novembro, mês do aniversário do grupo, várias actividades serão realizadas para festejar a efeméride, incluindo a apresentação de livros, exposições e projecção de vídeos sobre teatro. No palco, essas festivi-dades já começaram, com a colocação em cartaz, recentemente, de duas peças: "A casa da Boneca", do norueguês Henrik Ibsen, e "Muno Munene", esta para crianças.
"A Casa da Boneca" é um clássico europeu do século XIX, apresentado numa versão para o público moçambicano. O consultor do Mutumbela Gogo, Helge Ronning, diz que a adaptação foi feita de maneira a permitir uma leitura actual e tendo como fundo a vivência moçambicana. A história versa sobre relações de género na sociedade moderna e afirmação da mulher numa sociedade machista. Está em cartaz no Teatro Avenida e é representada pelos actores Adelino Bran-quinho, Isabel Jorge, Graça Silva, Jorge Vaz e João Chaúque. A encenação é de Manuela Soeiro, tendo Lucrécia Paco como assistente. Este ano é especialmente dedicado, no teatro mundial, a Ibsen, estando a ser apresentadas em vários palcos diversas peças que este dramaturgo escre-veu em vida. O Mutumbela fez a sua adaptação, que deverá ser levada a palcos tempos. DE NOVO AO RITMO DE ... "NIKETCHE" Entretanto, Adelino Branquinho, Graça Silva, Yolanda Fumo, Isabel Jorge e Lara Faria sobem ao palco no final deste mês para reporem a peça "Niketche", adaptação que Lucrécia Paco fez ao livro homónimo de Paulina Chiziane. "Niketche" é uma história de poligamia, que tem em Rami (Graça Silva) e Toni (Adelino Branquinho) os actores principais. Ela é uma mulher feliz até quando descobre que o marido lhe é infiel e assumiu outras relações. Tal como o romance, a peça é uma crítica à hipocrisia na nossa sociedade. A poligamia, que é prática cultural tradicional da sociedade africana e não só, é combatida em âmbitos formais, mas praticada às escondidas. (GIL FILIPE)
Paulina Chiziane na Noite de Poesia
‘‘Cont’Arte Estórias’’ ou melhor contar estórias com arte é tema de destaque no cartaz Noite de Poesia evento mensal no ICMA-Instituto Cultural Moçambique-Alemanha, evento que terá como convidados especiais, a consagrada escritora Paulina Chiziane e o grande dinamizador do desenvolvimento e pesquisa musical de Moçambique, Professor Orlando da Conceição, fundador do projecto Kina Mata Mikuluki e Malhangalene Jazz Quertet. O evento está agendado para às 18:30 horas, de sexta-feira no ICMA e, contará com a presença do jovem poeta e declamador Tchaka e ainda do Polinésio que lançará o seu primeiro livro de poesia pela editora Livaningo livro Cartão.
LITERATURA - Curandeirismo na era moderna
“Crendices ou crenças – quando os manes ancestrais se tornam deuses” é a mais recente obra literária de Juvenal Bucuane lançada recentemente.
Depois de se revelar na literatura moçambicana como poeta, Juvenal Bucuane apresenta-se desta vez como contista, numa publicação que para além de outros temas socias trata da questão dos hábitos e costumes culturais dos moçambicanos (feitiçaria, curandeirismo e religião) incluindo alguns conflitos sociais.
É uma história que decorre na cidade de Maputo e Catembe. Catembe pela fama que tem em assuntos relacionados com feitiçaria e que nos traz uma família (Mbelele) que se debate com o dilema de resolver um problema familiar pela via tradicional ou moderna.
Não é um assunto novo na literatura moçambicana, pois é possível deparar-se com assuntos do género em outras obras de outros autores moçambicanos tais como Paulina Chiziane em “Balada de amor ao vento”, e Ungulani Ba ka Khosa em “Ualalapi”. O que a distingue de outras obras é a forma de abordagem e a profundidade com que o tema é tratado. Chama atenção para o facto de assuntos ligados ao curandeirismo e a feitiçaria serem banalizados na actualidade apesar de fazerem parte do nosso dia-a-dia. Basta sair à rua e ver o número de anúncios de curandeiros espalhados pela cidade e até mesmo em Jornais.
Com oito capítulos e títulos sugestivos tais como “As Naturais Defesas Paternas”, “Viagem ao Santuário da vovó Zubaida”, “Kufemba – o exorcismo dos espíritos”, entre outros, levam-nos a uma reflexão profunda a condição de sermos africanos.
A história tem como protagonistas Nfezi e Tonina pais de Adamo. Estes são dominados pelos manes (espíritos dos mortos considerados divindades entre os gregos, desuses do paganismo) que os levam a procurar protecção junto dos curandeiros. Num primeiro momento nota-se uma resistência de Nfezi em consultar os adivinhos. Mas ao ver que tinham colocado “mphumelo” no seu filho, este decide ir consultar a “nyamussoro” para livrar o seu filho do “xipoko” que o atormentava.
A “nyamissoro” da história é a vovó Zubaida, por sinal muçulmana. “Nyamissoro” como profissão e muçulmana como religião. Uma “nyamissoro” moderna, com uma “ndhumba” construída em alvenaria e coberta de capim para não fugir a tradição. Vovó Zubaida que não conseguindo resolver o problema da família Mbelele na cidade de Maputo, os leva para o seu santuário na Catembe onde tudo acontece, onde nenhum “xipoko” sai em pune, iniciando assim um ciclo de consultas aos curandeiros que passou a fazer parte da vida dos Mbelele. 
A família "Tambo Tambulani Tambo" em conversa com Paulina Chiziane
ARTES - Festival Tambo: Exemplo da universalidade da cultura
A PRESENÇA do conceituado e incontornável escritor sueco,  Henning Mankell, da escritora do “Nikechte”,  “Sétimo Julgamento”, “Balada do Amor ao vento” e outros livros,  Paulina Chiziane, Manuela Soeiro, a patroa do Mutumbela Gogo, gestor do Teatro Avenida e os cidadãos singulares do Brasil, Holanda, Estados Unidos da América, mais outros estrangeiros vivendo em Moçambique, entre dinamarqueses, burundeses e de outras nacionalidades, fizeram do festival do Tambo Tambulani Tambo, em Pemba, um encontro completo, pela sua universalidade e dimensão cultural apurada, que mereceu a nota mais alta de todas as realizações daquela associação, cuja sede está localizada no fresco bairro de Nanhimbe, logo a seguir à famosa praia do Wimbe.
Nanhimbe viveu, deste modo, os seus momentos mais significativos da sua história, pois de um momento para outro viu-se invadido por estranhos vindos de todos os lados de Cabo Delgado e do além-fronteiras. Eram pessoas que traziam ou vinham “comer” a diversidade cultural que sempre foi lema dos festivais do Tambo Tambulani Tambo, ali onde a riqueza do nosso país é mais visível e a importância das fronteiras se dilui, o ponto de encontro dos povos.
Quem não gostou de ver Paulina Chiziane a convidar a juventude a escrever sobre o seu povo e nunca sobre aspectos efémeros da nossa existência passageira pela superfície do planeta Terra, quem não se sentiu diferente, por isso, não esteve em Nanhimbe nem ouviu esta escritora moçambicana a falar num programa propositadamente aberto no canal da emissora católica local, a Rádio Sem Fronteiras. Chiziane disse que não é obra para respeitar aquela que fala de partes de um povo e não de todo o povo.
Por isso, para ela, escritor há-de ser aquele cujos conceitos e tratamento das matérias não morrem no mesmo dia em que os seus protagonistas morrem ou desaparecem do mapa sócio-politico. Dai que recomendou que os jovens que se pretendem candidatos a escritores, tenham em conta que as nossas origens são jazigos inesgotáveis de estórias nunca mortas!
Quem não viveu os momentos em que a meninada do Tambo Tambulani Tambo esteve a desenhar e a pintar, tendo à frente o titio Boinho, pintor do bairro de Paquitequete, coadjuvado por um holandês que para isso veio do seu país, via Nairobi, é porque simplesmente não esteve no festival que já deixou história.
Quem não se levantou e chorou de alegria, perante as melodias produzidas pelo grupo Mapiko de Macomia, com uma sincronização que lembra a interferência de algo tecnológico, incluindo o aumento e diminuição do volume do som produzido por uma orquestra, que na verdade eram pessoas vivas, com os nomes próprios, não esteve em Nanhimbe. O Mapiko de Macomia, mexeu em todos, sem distinção de idade, sexo, religião e todos ficaram dançarinos no espaço do centro cultural Tambo. Que o diga a Manuela Soeiro, que já tem a mala feita para, daqui há pouco, viajar para o distrito de Macomia,  ir estudar o Mapiko e aquele grupo, no terreno.
Chiúre estava representado por três grupos, nomeadamente a Banda Órfã, a Companhia Distrital de Canto e Dança(uma maravilha três estrelas) e Wina Wáfrica. O Tufo de Maringanha, Rumba de Chiwiba e o grupo juvenil da ARO Moçambique, fizeram um conjunto que foi completado pelos jovens de Nacala, com as suas novas invenções da idade, através do AJN-Nacala, música ligeira. A chave para tudo isso, veio por via de Imamo Haje.
Valeu a pena a iniciativa, parecem dizer todos! Os estrangeiros convidados não têm palavras para caracterizar a originalidade do pensamento e realização do festival, em local rústico e sem poluição de toda a espécie. Hospedados como estavam na futura cidadela cultural da associação Tambo Tambulani Tambo, que tem como coordenador principal, Victor Raposo, conhecido artista de tudo, mas sobretudo no Teatro, Música, Pintura e… no seu pensar, sempre artístico!
A Ângela. Brasileira, Cristina, dos Estados Unidos e outros,  sentiram-se órfãos na segunda-feira, quando os artistas e convidados iam regressando aos seus locais de origem. Foi como que o fim da alegria de cada um deles.
  
ACTIVIDADES CULTURAIS NA SEMANA DO LIVRO
VÁRIAS actividades culturais serão levadas a cabo esta semana em diversas partes da capital, alusivas ao Dia Internacional do Livro, que se assinala amanhã. Com efeito, a Rua d’Arte, na baixa da cidade, abre amanhã às 16:30 horas, uma festa de literatura e feira de livros infantis com objectivo de incutir nas crianças o hábito de leitura e buscar um pouco do que existe no mundo relacionado com a criança e podendo desta feita aperfeiçoar a sua linguagem e se promover como ser humano.
Um “show” de poesia, ciclo de cinema e literatura do Cineclube Komba Kanema assim como a projecção do filme “Terra Sonâmbula”, realizado por Teresa Prata com base no romance homónimo de Mia Couto, também fazem parte das actividades agendadas para aquele lugar, que contempla ainda as actuações dos músicos Roberto Chitsondzo, David Macuácua, Xavier Machiana e Hortênsio Langa.
Por outro lado haverá a inauguração de uma oficina de literatura e outra de poesia com o declamador Jaime Santos, que irá preceder a leitura de alguns versos de José Craveirinha e de outros autores.
O campus da Universidade Eduardo Mondlane pretende levar a cabo esta semana provas em grupos que tem como título “Caça ao Tesouro do Livro”, onde participarão toda a comunidade estudantil daquela maior instituição de ensino superior, tendo como objectivo fazer com que os alunos reflictam sobre a importância do livro no uso diário e na diversificação no campo da investigação científica através da selecção de obras consoante aos cursos que cada um segue. No fim das provas será seleccionado o melhor grupo, que receberá como prémio um livro.
Ainda na semana do livro a Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) da mesma universidade promove um debate sobre a literatura internacional, que contará com a presença da consagrada escritora moçambicana Paulina Chiziane.
  
Mãos à obra casa dos escritores!

SR. DIRECTOR!

Antecipadamente, quero agradecer a V. Excia pela divulgação desta singela opinião na página dos leitores e exaltar o facto de ela ser defensora de um dos direitos do cidadão. O propósito tem a ver com três opiniões inseridas nesta página, datas de 16, 18 e 24 de Outubro relativas à nossa espaçosa casa de escritores moçambicanos.
 Confesso-me bastante intrigado com o facto de os três cidadãos que bem expressaram o que lhes vai no fundo da alma terem, a meu ver, apenas enviando nefelibáticos SOS`s, porquanto era meu desejo ajudar, mas não vejo por onde socorrer, os apelos: “salvem a casa / não matem a casa ou acudam a AEMO”, solicitações que não diferem em medida como do então debate polémico que questionava sobre a morte da literatura que ainda, a meu ver, vêem à socapa de certos quadrantes plumitivos que, obviamente, querem e devem apartar-se para bom agrado, contribuindo na elevação de qualidade da literatura moçambicana. Se é que nem para coveiros de suas próprias sepulturas, servem. Sei que a AEMO não é lugar para o relento.
Sei ainda que a AEMO é e será eternamente viveiro dos escritores a exemplo de grupos de jovens que tem aproximado, sendo o mais recente o núcleo Arrebenta Xithocozelo, acolhido na AEMO pela direcção de Juvenal Bucuane, que propôs assinalar a passagem de mais um ano da morte da poetisa Noémia de Sousa, em que convidaram para oradores, a escritora Paulina Chiziane, a prof. Fátima Mendonça e ainda Nelson Saúte. Ou o NELO que até assinou um memorando de entendimento com a casa dos escritores. Quanto a Cindoca, a meu ver, quis expressar o seu saudosismo, muito a AEMO lhe ajudou na administração do centro social, contudo teve percalços na gestão que não importa aqui referir; até porque o SilaBar virou de barraca para um apresentável mini-restaurante, os tempos são outros, há que mudar as vontades!
Falo em modesta qualidade de poeta que sempre se achou no direito de acercar-me de assuntos que norteiam a vida da casa, embora, nunca tenha-me integrado em algum elenco directivo. Aliás, as portas sempre estiveram abertas. Para os que se acham habitantes da ausência que não fiquem com o rabo de fora, pois as tertúlias devem acontecer como sempre, com ou sem Ungulanis, que sejam a partir de agora eles mesmos Whites de futuro. Recordem-se que Rui Nogar fez questão de eleger a “Charrua” como a geração do futuro.
Um facto, caricato, é de que estas opiniões vêem a alicerçar que a AEMO é, sem dúvidas, a casa que representa em primeira instância os escritores independentemente de sectarismos que, em certa medida, nos engrandecem. É tradição na AEMO que a maioria dos escreventes que por lá calcorreiam, virarem bons governantes, jornalistas de proa, poetas e prosadores laureados e isso orgulha bastante por darem o contributo à sociedade.
Para mim, o escritor ou poeta que se preze como tal deve condimentar ser um verdadeiro animal político, que existe dentro de si e não limitar ser cultor da exclusão. Deve contribuir com ideias salutares na vasta sementeira do futuro, e que arregace as línguas, por que não? Para não se esquecer dos tempos do trabalho voluntário, dando mostras da sua legítima preocupação.
Deixemos de lamúrias unindo os corações em prol da justa causa da AEMO. Não individualizemos a casa. Um palco está ora edificado para acolher a todos, até mesmos os medíocres que normalmente proliferam em qualquer geração.
A minha singela opinião, a AEMO devia marimbar-se do estatuto de ser também editora para não se banalizar, cingindo-se apenas em chancelar grandes antologias, obras monumentais, de referência académica, ou seja, histórica e pugnar-se na defesa dos direitos sociais dos seus membros; sindicalizando-se.  

  • Amin Nordine

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